POESIA AO AMANHECER – 359 – por Manuel Simões

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DANIEL FILIPE

 ( 1925 – 1964 )

            MORNA

             É já saudade a vela, além.

            Serena, a música esvoaça

            na tarde calma, plúmbea, baça,

            onde a tristeza se contém.

            Os pares deslizam embrulhados

            de sonhos em dobras inefáveis.

            (Ó deuses lúbricos, ousáveis

            erguer, então, na tarde morta

            a eterna ronda de pecados

            que ia bater de porta em porta!)

            E ao ritmo túmido do canto

            na solidão rubra da messe

            deixo correr o sal e o pranto

            – subtil e magoado encanto

            que o rosto núbil me envelhece.

( de “A ilha e a solidão”)

Poeta cabo–erdiano que também se pode incluir na literatura portuguesa, até porque veio para Portugal com apenas dois anos. Embora a sua poesia seja de temática universal, retoma, porém, a “cabo-verdianidade” com “A ilha e a solidão” (1957). Inserido em várias antologias de poetas portugueses, não pode, porém, ficar ausente de qualquer colectânea de poetas cabo-verdianos. Obra poética; “Missiva” (1946), “Marinheiro em terra” (1949), “O viajeiro solitário” (1951), “Recado para a amiga distante” (1956), “A ilha e a solidão” (1957), “A invenção do amor” (1961), “Pátria, lugar de exílio” (1963).

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