Há um aforismo que diz – «os amigos podemos escolhê-los; familiares e vizinhos, não». Uns, são-nos impostos pelas leis do sangue, os outros por circunstâncias que não podemos alterar. Pais, irmãos, filhos, temos obrigação de os amar; com os vizinhos, devemos tentar ter boas relações. Boas relações que são uma estrada com dois sentidos – eles devem esforçar-se também por ter connosco boas relações, por não lesar os nossos legítimos direitos. O Estado espanhol, herdeiro de um reino de Castela e Leão, arrogante e agressivo, que tudo tentou para nos absorver, é um bom vizinho?
De modo algum. É um péssimo vizinho. Tenta esmagar-nos com a sua dimensão territorial e com o seu peso demográfico – território e população conseguidos pela absorção de nações que não conseguiram, como nós, manter-se independentes. O Estado espanhol não faz qualquer esforço para ir ao encontro dos nossos interesses – a política da água é apenas um exemplo – retendo-a se o tempo é de seca, abrindo as comportas das barragens,se a chuva é abundante. Para não falar em Olivença – território que nos foi roubado e que é dezasseis vezes maior do que Gibraltar, que o reino de Espanha deu ao Reino Unido e agora quer de volta.
A cobardia da diplomacia portuguesa é uma constante que os governos dos últimos dois séculos têm mantido. José Sócrates foi ao ponto de afirmar que nos convém ter como vizinho um estado tão poderoso quanto possível – seguindo a lógica das “lojas âncora” prevalecente nos centros comerciais. É óbvio que, para além de todas as razões que existam para que Catalunha, País Basco e Galiza sejam independentes, seria do nosso interesse que essa verdade histórica e cultural fosse reposta. Devíamos apoiar a tese soberanista da Catalunha. Devíamos apoiar a integração da Galiza na CPLP (como membro de pleno direito) – o Brasil e os jovens países de língua oficial portuguesa serão por certo sensíveis ao anseio de independência da Galiza, berço da língua que nos une.
A subserviência da nossa República perante um reino minado por contradições e corrupções. um reino que herdou tudo o que de ridículo e desumano Franco trouxe na bagagem do seu exército de África, com um rei que traiu tudo e todos, um serventuário do velho general fascista, a subserviente cobardia dos nossos governos é um dos pontos de apoio do Estado espanhol que, em troca, nos faz o grande favor de não contestar uma soberania que não conseguiu abater.
O reino bourbónico (eu digo-lhe “bubónico”) não é bom vizinho, nem sequer para os seus súbditos. E não só para bascos e catalães; os galegos são particularmente “amados” por esse seu vizinho-senhor, porquanto apesar de tudo continuam a lembrar a sua condição de origem, coincidente com os cidadãos da República portuguesa.
Mas acontece que nem sequer é bom vizinho para os castelhanos e a prolongação da Castela primeira. Com efeito, Castela foi o primeiro reino independentista da Península, antes mesmo de Portugal conseguir constituir-se em reino independente do matriz, reino da Galiza-Leão.
(Não se perca de vista que a historiografia “castellano-española” e, na sua sequência, também a portuguesa criaram uma história fictícia, deixando de lado (?) o facto de ambos os reinos. Castela e Portugal, se independizaram do reino da Galiza-e-Leão. Reveja-se bem a história do acontecido…)
(Por outro lado, paradoxalmente ambos os reinos nunca se desentenderam dos súbditos-nobres desse reino matriz…)
Mas voltemos aos tempos de hoje: Castela (eu sou castelhano), bravamente independentista prematura, foi submetida pelo neto dos chamados reis católicos, Carlos I de Castela (e V da Alemanha?) e os seus vassalos alemães: a execução de Padilla, Bravo e Maldonado, depois de vencidos em Villalar de los Comuneros. E vencida não foi capaz de se manter independente, mas ao serviço dos interesses dos Habsburgos, primeiro, e dos Bourbons, depois, até os dias atuais. De facto Castela foi empobrecida e pobre continua hoje em bens e em habitantes e estes, para além, confusos pela propaganda que os desgovernantes lhes incutem até se crerem a crema da crema da “españolidad”: iludidos e parvos… definitivamente? Temo que não têm remédio.
(Recomendaria a leitura do “Sempre em Galiza”, de Castelão, sobre estes assuntos tão escondidos quanto mascarados…)
E acabo: Nem sequer ficou o idioma castelhano livre desse submetimento da Castela toda… Tanto que propriamente o idioma castelhano mais “puro” é o que utilizam os hispanófonos americanos.
Re-redijo:
(Não se perca de vista que a historiografia “castellano-española” e, na sua sequência, também a portuguesa criaram uma história fictícia, deixando de lado (?) o facto de que ambos os reinos, Castela e Portugal, se independizaram do reino da Galiza-e-Leão. Reveja-se bem a história do acontecido…
(Por outro lado, paradoxalmente ambos os reinos nunca se desentenderam dos súbditos-nobres desse reino matriz, Galiza: nobres galegos puseram-se ao serviço de ambas as coroas, da castelhana e da portuguesa. Sem dúvida caso particular é o de Cristóvão Colom, e não Colombo, pontevedês e quase com toda a certeza, nobre galego (Pedro Madruga). Outro caso, diverso, é o de Cervantes, galego ou com ascendência galega próxima, para além de “marrana”…)
Parabéns pela intevençao e saudos fraternais desde Ourense, Galiza.
Gostei moito do artigo.
O reino bourbónico (eu digo-lhe “bubónico”) não é bom vizinho, nem sequer para os seus súbditos. E não só para bascos e catalães; os galegos são particularmente “amados” por esse seu vizinho-senhor, porquanto apesar de tudo continuam a lembrar a sua condição de origem, coincidente com os cidadãos da República portuguesa.
Mas acontece que nem sequer é bom vizinho para os castelhanos e a prolongação da Castela primeira. Com efeito, Castela foi o primeiro reino independentista da Península, antes mesmo de Portugal conseguir constituir-se em reino independente do matriz, reino da Galiza-Leão.
(Não se perca de vista que a historiografia “castellano-española” e, na sua sequência, também a portuguesa criaram uma história fictícia, deixando de lado (?) o facto de ambos os reinos. Castela e Portugal, se independizaram do reino da Galiza-e-Leão. Reveja-se bem a história do acontecido…)
(Por outro lado, paradoxalmente ambos os reinos nunca se desentenderam dos súbditos-nobres desse reino matriz…)
Mas voltemos aos tempos de hoje: Castela (eu sou castelhano), bravamente independentista prematura, foi submetida pelo neto dos chamados reis católicos, Carlos I de Castela (e V da Alemanha?) e os seus vassalos alemães: a execução de Padilla, Bravo e Maldonado, depois de vencidos em Villalar de los Comuneros. E vencida não foi capaz de se manter independente, mas ao serviço dos interesses dos Habsburgos, primeiro, e dos Bourbons, depois, até os dias atuais. De facto Castela foi empobrecida e pobre continua hoje em bens e em habitantes e estes, para além, confusos pela propaganda que os desgovernantes lhes incutem até se crerem a crema da crema da “españolidad”: iludidos e parvos… definitivamente? Temo que não têm remédio.
(Recomendaria a leitura do “Sempre em Galiza”, de Castelão, sobre estes assuntos tão escondidos quanto mascarados…)
E acabo: Nem sequer ficou o idioma castelhano livre desse submetimento da Castela toda… Tanto que propriamente o idioma castelhano mais “puro” é o que utilizam os hispanófonos americanos.
Re-redijo:
(Não se perca de vista que a historiografia “castellano-española” e, na sua sequência, também a portuguesa criaram uma história fictícia, deixando de lado (?) o facto de que ambos os reinos, Castela e Portugal, se independizaram do reino da Galiza-e-Leão. Reveja-se bem a história do acontecido…
(Por outro lado, paradoxalmente ambos os reinos nunca se desentenderam dos súbditos-nobres desse reino matriz, Galiza: nobres galegos puseram-se ao serviço de ambas as coroas, da castelhana e da portuguesa. Sem dúvida caso particular é o de Cristóvão Colom, e não Colombo, pontevedês e quase com toda a certeza, nobre galego (Pedro Madruga). Outro caso, diverso, é o de Cervantes, galego ou com ascendência galega próxima, para além de “marrana”…)