VERA-CRUZ – por Fernando Correia da Silva

Um Café na Internet

A bordo, o Capitão-mor Pedro Álvares Cabral escreve datas e depois murmura. Assim:

21 de Abril de 1500, 3ª feira. A Páscoa foi no domingo passado. Nas ondas surgem ervas compridas. Próxima já ficará a terra aventada por El-Rei.

22 de Abri de 1500. De manhã surgem bandos de pássaros a voar para ocidente. Vasco da Gama também deu conta deles. A meio da tarde, muito ao longe, avistamos terra: um monte redondo e alto, muito arvoredo na terra chã. Ao monte chamo Pascoal e à terra dou o nome de Vera-Cruz. Anoitece e resolvo ancorar a seis léguas da costa.

23 de Abril de 1500. Avançamos até meia légua da terra, direitos à boca de um rio. Sete ou oito homens pela praia. Mando Nicolau Coelho a terra. Quando vara o seu batel, já correm para ele cerca de vinte homens pardos. Todos nus, sem nada que cubra as suas vergonhas. Setas armadas, cordas tensas, chegam dispostos ao combate. Mas Nicolau Coelho, por gestos, faz sinal que pousem os arcos em terra e eles os pousam.

O Capitão-mor pergunta-se: que gente é esta que, até por gestos, aceita a mansidão? Ingenuidade ou malícia?

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