Não posso estar a falar sobre interrupção voluntária da gravidez, habitualmente chamada “aborto” sem falar da tese de licenciatura do 5.º ano jurídico na Faculdade de Direito de Lisboa de Álvaro Cunhal, em Julho de 1940, contava ele 26 anos.
Pela provocação, pela ousadia, pela inovação. Lida há luz da actualidade, há quem considere que até nem estará muito bem feita. Mas situemo-nos: Cunhal tinha sido preso pela PIDE em Maio de 1940 e entre a documentação então apreendida encontrava-se um exemplar dactilografado da sua tese, não revisto nem finalizado. Foi difícil recompor o que tinha preparado. Mas tinha a ideia do que queria defender, isso sim. Classificava o aborto clandestino em Portugal como “um flagelo”.
Paula Rego
Aborto é o produto que resta da prática do abortamento. Se o Cunhal usou a palavra aborto para designar o abortamento, então, devia ter reprovado.CLV