CONTOS & CRÓNICAS – Romance trivial – por Sérgio Madeira

Ocontos2 (2)

 

Boa tarde amigo Joaquim,

hoje venho com alguma pressa

A ciática vai assim assim,

mas  dói-me um pouco a cabeça.

 

O pedido? Salada de alface

e uma sapateira prodigiosa

com uma rosa tatuada na face …

 Isso servido com expressão radiosa.

 

E talvez pensando melhor,

traga uma sopa de espinafres,

um pão com bastante bolor

e um belo arroz de milhafres.

 

Um prato com gentis caracóis

cozinhados em decúbito dorsal,

sob o fogo súbito de mil sóis

e  um grito longo e paranormal.

 

Queria ainda uma baba de camelo

e um cálice de cristal com moscatel,

 um requerimento com  o devido selo

 e uma travessa de sarapatel.

Um lacrau com batatas a murro,

um chacal em calda de tomate

ou ainda um débil sussurro,

uma beringela e um abacate.

 

Não se esqueça de pedir na copa

que mandem dois pratos a mais:

vem um rapaz que fez comigo a tropa

 e a minha prima que trabalha nos jornais.

Apresentei-os num baile em  Cascais,

apaixonaram-se num momento

e como a moça já não tem pais

ele vem hoje pedir-ma em casamento.

 

Joaquim, em honra dos namorados,

traga um  milhar de velas acesas.

 Bem sabe, quando tenho convidados,

não costumo  olhar a despesas.

 

É preciso ainda um jarro de tinto,

uma meloa e um queijo da ilha

(é uma angústia pesada  a que sinto

quando aqui entra a patroa ou a filha).

 

Não se esqueça do arroz doce

e da garrafa com o bagaço de figo,

que o café que ontem me trouxe…

ó Joaquim não brinque comigo!

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