Novas Viagens na Minha Terra – Série II – Capítulo 174 – por Manuela Degerine

Em Negreira

Imagem3Os inevitáveis duche, lavagem, jantar e arrumação da bolsa para amanhã passam-se na conversa, a seguir escrevo quatro páginas de diário muito entremeadas de respostas às perguntas que me vão fazendo: apresentamo-nos (uns aos outros) durante o resto da tarde. Dois italianos chegaram de Sevilha pelo Caminho da Prata, atravessaram ribeiras com a água pelo pescoço e a mochila à cabeça. Três portugas – de Matosinhos – vão na primeira etapa; caminham de Santiago a Muxia. Os outros com quem falo palmilharam o Caminho Francês: uma columbiana percorreu as últimas oito, duas suíças as últimas quinze etapas e os restantes, isto é, o coreano, Joseph (um checo que conheci no Parador dos Reis Católicos), uma dinamarquesa (antipática), o casal italiano e um casal espanhol percorreram o Caminho Francês de Saint-Jean-Pied-de-Port (ou Roncesvalles) a Santiago de Compostela.

O casal espanhol – recém-reformado – saiu de casa há mais de um mês e concluirá em Finisterra a maior aventura jamais vivida. Mostram-se orgulhosos por terem conseguido chegar aqui e muito felizes por se situarem a poucos dias do conforto doméstico, ah, entrar na banheira, vestir roupa seca, dormir na sua cama… (Vou no décimo dia de caminhada, um terço do que eles peregrinaram à chuva; ainda não me saturei. É portanto normal que traga uma curiosidade pontiaguda, pronta para agarrar as grandes e pequenas ocorrências do Caminho.)

Vários murmuram, que chatice, não nos livrámos do coreano, pois parece que – durante todo o Caminho Francês – este se deitava cedo e levantava tarde. Por ele se colocar em posição horizontal: trinta vezes os outros se deitaram às escuras e às escuras trinta vezes arrumaram a bagagem.

Leave a Reply