FALEMOS DE ECONOMIA, FALEMOS ENTÃO DE POLÍTICA – QUANDO A INCOMPETÊNCIA OU A MALDADE SÃO CONSIDERADAS QUALIDADES E, COMO TAL, PREMIADAS, por JÚLIO MARQUES MOTA

Quando a incompetência ou a maldade são consideradas qualidades e, como tal, premiadas – Iª Parte – B

A propósito das recentes promoções de Vítor Gaspar, Álvaro Santos Pereira e José Luís Arnaut

A taxa de câmbio real a subir representa então que a competitividade do país face ao exterior está a aumentar. Inversamente, E está a descer. Logicamente se E se mantém constante ao longo do tempo, tal facto significa que não evolui a posição do país em termos de competitividade face ao exterior. De igual modo, olhando para a expressão (III) podemos dizer que a taxa de câmbio efectiva aumenta quando a variação da taxa de câmbio nominal é superior à diferença das taxas de inflação (dRs/Rs) > [(dP/P) – (dP*/P*)], ou seja, o efeito benéfico da variação da taxa de câmbio nominal a subir não é neutralizado pela diferença da variação dos preços e, portanto, podemos garantir que a competitividade do país está a aumentar; Contrariamente, podemos dizer que a taxa de câmbio efectiva desce quando a variação da taxa de câmbio nominal é inferior à diferença das taxas de inflação (dRs/Rs) < [(dP/P) – (dP*/P*)], ou seja, neste a variação dos preços mais que neutralizou o efeito benéfico da desvalorização, pelo que a economia estaria a perder competitividade; por fim, podemos dizer que a taxa de câmbio efectiva permanece constante quando a variação da taxa de câmbio nominal é igual à diferença das taxas de inflação (dRs/Rs) = [(dP/P) – (dP*/P*)], ou seja, neste caso o efeito benéfico da desvalorização da taxa de câmbio é neutralizado pela diferença nas taxas de inflação e que, por esta razão, o país manteve constante a sua posição em termos de competitividade. Neste último caso, se políticas houve para alterar a posição do país em termos de competitividade, então as políticas utilizadas foram pura e simplesmente inúteis relativamente ao objectivo procurado, para não falar dos imensos prejuízos colaterais. É o caso em Portugal de acordo com o gráfico apresentado por Tortus Capital.

Isto é o que se pode deduzir dum gráfico como o que acabamos de citar. E face a esta realidade, que vemos nós agora? Vemos os nossos dois falcões a serem promovidos internacionalmente pelo seu mérito por terem ajudado a destruir um país e isto em nome do alto valor do seu curriculum vitae. Inimaginável!!! E diremos que agora é a OCDE e o FMI que estão a brincar com todos nós, não apenas na atualidade mas também futuramente, pois serão eles os atores que virão colocar ou controlar o discurso ideológico necessário para justificar as políticas que se tem feito e que se quer quen c ontinuem a ser feitas, na defesa da ordem establecida.. Mas vejamos entretanto o que na peça anterior, onde nos debruçamos sobre o texto americano, colocámos acerca do referido texto americano:

 “Podemos ir um pouco mais longe que o texto americano. Vê-se que a taxa de câmbio real do euro (português) tem permanecido estável, ou seja que por aí não se terá alterado a posição de Portugal em termos de competitividade face ao exterior. Daí a pergunta: então para que servem as políticas de desvalorização interna? Mais ainda, então a melhoria da nossa posição externa deve-se fundamentalmente, pelo lado das importações, aos cortes brutais na despesa, enquanto que pelo aldo das exportações deve-se apenas a factores que nos são relativamente exógenos, pelo menos em termos de competitividade. Dir-me-ão que o raciocínio não está correcto uma fez que para efeitos de competitividade se costuma utilizar a taxa de câmbio real em que os seus deflatores são os salários. Mas se tivermos em conta que os principais parceiros de Portugal são os países europeus e que em quase todos eles os salários estão perder peso, ficamos assim a poder admitir que a diferença entre os dois tipos de taxa de câmbio real não seria significativa.

Figura XXII – Taxa de câmbio real efetiva

maldade - I

Ora, a economia portuguesa não pode crescer por causa das políticas de contracção internas, por falta de estímulo da procura seja de bens de consumo seja de bens de investimento. Resta-lhe uma saída, a saída dos mercados externos para poder crescer, e esta é a única via para resolver a questão da dívida soberana. Simplesmente, não se pode desvalorizar para que os nossos preços se reduzam no exterior, sem reduzir as margens de lucro, uma vez que estamos no quadro da moeda única. O país não dispõe de moeda própria. O que fazer, a velha pergunta de Lenine? Baixar os salários é então a solução, baixar os custos de forma imediata, a TSU do FMI, que depois nos vieram dizer que nunca a propuseram! De várias maneiras o governo tem aplicado esta regra. Os salários em baixa e aparentemente duas aparentes vantagens: a baixa de salários e o aumento de impostos sobre os mesmos trabalhadores levam a uma forte queda do rendimento disponível das famílias e baixam assim as importações. Por aqui melhora a nossa balança comercial. Por outro lado, baixam os salários, diminuem os custos mas num quadro recessivo geral, os outros países fazem relativamente o mesmo e os efeitos ditos de preço obtidos com a política salarial repressiva tendem a desaparecer ou a serem mínimos face aos pesados custos que implicam! Adicionalmente estes países fazem o mesmo por efeito rendimento, ou seja, a preços constantes como o fazem austeridade, baixam também eles o rendimento disponível das famílias e as suas importações sofrem uma queda. Mas as suas importações são as nossas exportações. Portanto, a conclusão é imediata: as políticas de austeridade são uma monstruosidade e tanto mais quanto mais o endividamento externo é o elemento central desta crise . Se alguma melhoria da balança existe, deve-se então a factores que estão fora das políticas de austeridade, como é o caso português.” 

(continua)

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Para ler a Parte – I – A deste trabalho de Júlio Marques Mota, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a:

FALEMOS DE ECONOMIA, FALEMOS ENTÃO DE POLÍTICA – QUANDO A INCOMPETÊNCIA OU A MALDADE SÃO CONSIDERADAS QUALIDADES E, COMO TAL, PREMIADAS, por JÚLIO MARQUES MOTA

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