Abro a janela de par em par para entrar o rio e o cio do amanhecer
O sol desnuda as telas e as cores que fizeram a noite mergulham no frio das águas fundas do rio
Pelos tectos de penumbra das vidas que vivem na sombra às escondidas da madrugada voam pedaços de nevoeiro e gaivotas bailando
Sobem no ar gemidos e dores vapores desejos e cores das gargantas secas da noite acabada
Retomo os pincéis e a tortura das tintas sem cor e a dor de não conceber a textura onde pintei o amor
Nada mais quero além do sol e do rio e a fecunda sensação de não ter frio
Ilustração: Pormenor de quadro de Adão Cruz