Novas Viagens na Minha Terra – Série II – Capítulo 189 – por Manuela Degerine

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Carapau de caminhada

Ontem à noite Franz e Angelika – que também chegara a Finisterra – procuraram-me por ruas e restaurantes, depois ela lembrou-se que costumo cozinhar, vieram buscar-me ao albergue, não encontraram lá vivalma, não tiveram acesso às camaratas, ninguém subiu nem desceu… Angelika regressa a Santiago mas Franz teve a ideia luminosa:

– E se caminhasse mais um dia?

Apresenta-se como professor de inglês e co-autor de manuais – do que não duvido. Com tão pouca criatividade será incapaz de inventar uma mentira. Todavia a certa altura busco o adjetivo “leve” que me anda desarrumado na memória.

– Qual é o antónimo de “heavy”?

Franz não percebe e, quando percebe, não encontra. Descubro enfim o “light” que algures se escondera… O inglês dele não é melhor do que o meu, o qual não é grande coisa, pouco importa todavia, não sou aluna nem inspetora. O que agora me mata… Esta conversa de bacalhau rançoso, de cachucho putrefacto, falo de literatura germânica, falo de literatura inglesa, falo de Mark Twain, cuja autobiografia acabo de ler, falo da Áustria, falo da Galiza, não há diálogo mas, logo que me calo, o que aliás me convém, ele relança o palratório, ah, estas praias são bonitas, ah, o tempo está magnífico, esta brisa é agradável, ah, sabe bem caminhar, daqui a nada dá outra volta, a imaginação tem limites, sobretudo a dele, embora modificando – fantasia arrepiante – a ordem, ah, o tempo está perfeito, ainda hoje não choveu, já reparaste, felizmente volto a caminhar, não esperava ver estas praias…

(Terei que o aturar durante mais vinte e cinco quilómetros? Mais seis horas?)

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