Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
Falemos de história, falemos de Economia, falemos então de Política, a propósito da Ucrânia
Este é o primeiro de uma série de textos sobre este tema, que vos iremos apresentar esta semana em
A Viagem dos Argonautas
1. Ucrânia-Crimeia: do direito da Democracia a dispor dos povos
A ingerência coloca-nos à beira da guerra
Jean Bonnevey, Revista Metamag, Março de 2014
O presidente Obama declarou que os Ucranianos deviam decidir do futuro da Ucrânia. É o famoso “ direito dos povos a disporem deles próprios”. Mas hoje estamos já bem longe. O novo imperialismo, é o imperialismo democrático, a democracia que se atribui o direito de dispor dos povos. Há, à nível mundial, uma subversão democrática que tenta substituir regimes para pôr em seu lugar poderes pro – Atlânticos, os EUA –EU de Bruxelas.
A frase d Obama aplicava-se com efeito à crise da Crimeia. Ora o povo da Crimeia, se fizessem votar, quereria tornar a ser totalmente russa. A Crimeia cedida por Kroutchov à Ucrânia nunca foi ucraniana. Mem é mesmo seguro de que se todos os ucranianos votassem, os pro-europeus ganhariam. A democracia mundial faz muito pouco caso da história das nações e a sua suficiência universal está a colocar o mundo em perigo.
A Crimeia é um caso exemplar
A Crimeia, república soviética autónoma, estava unida à Rússia, quando depois da Segunda Guerra mundial, Staline decidiu reduzir o seu estatuto ao de Oblast, significando “simples “região”, mas sempre na Rússia. Além disso, em 1948, o porto da frota russa do mar Negro, Sébastopol, foi destacado administrativamente da Oblast da Crimeia para estar directamente ligada a República socialista federativa soviética da Rússia. Sebastopol não tem então nada de Ucraniano.
Para festejar o tricentenário da unificação Ucrânia-Rússia, que selava a união indestrutível entre os dois povos em 1954, Nikita Khrouchtchev teve uma ideia: solidificar ainda ligeiramente mais este espírito. Khrouchtchev tinha nascido na fronteira russa-ucraniana, tinha casado com uma ucraniana, mas era mesmo assim russo. Era sobretudo comunista. Aplicou as piores medidas repressivas estalinianas na Ucrânia, incluindo a fome dirigida. Teria pensado que administrativamente, a união da Crimeia à Ucrânia era geográfica e economicamente mais racional. Vestiu esta ideia, a da transferência da Crimeia da Rússia para a Ucrânia “em presente”. Em 1990, a Crimeia obteve, a cerca de alguns meses da dissolução da URSS, de voltar a ser uma República soviética socialista autónoma na Ucrânia. Com a independência da Ucrânia, a Crimeia mantem um estatuto de República autónoma da Crimeia dentro da Ucrânia! Em tudo isto, o estatuto de Sebastopol actual é específico: cidade autónoma numa República autónoma, e toda ela virada para o apoio à Frota Russa.
Já houve, por causa do controle da Crimeia, uma guerra internacional
A guerra da Crimeia opôs de 1853 à 1856 o Império russo à uma coligação que compreende o Império Otomano , o Reino Unido, o Império francês de Napoleão III e o reino de Sardenha. Relativamente dispendiosa em homens, principalmente devido às doenças (como a cólera) que foram mais mortíferas que os combates, terminou-se por uma derrota russa. Este conflito Revelou uma certa ineficácia do comando britânico e francês: más condições sanitárias, problemas de abastecimento das forças expedicionárias, generais nomeados por oportunismo político mais que em função das suas competências. Além disso mostrou que os Russos tinham subestimado o valor dos Turcos. Os russos foram batidos mas permaneceram.
Uma outra data chave da história da região é o ano 1300, que viu os cavaleiros mongóis chegarem à Europa, conquistarem a Crimeia e instaurarem aí o Islão como religião principal, e isto durante vários séculos. Pouco depois, em 1427, foi criado pelo Tatares na sequência da derrota da Horda de Ouro, o Khanat da Crimeia tendo como capital Bakhchisarai, que foi até ao século XVIII um centro importante poder na região.
O fim da guerra russo-turca em 1774 e o tratado de Kutschuk-Kaïnardji marcou o fim de uma certa independência da Crimeia. A região, finalmente anexada pelo Império russo graças à vitória final do Príncipe Potemkine em 1783, foi declarada pela imperatriz Catarina a Grande “terra eternamente russa”.
Na sequência de esta anexação, uma grande parte da população tártara foi refugiar-se no império Otomano. Paralelamente a esta russificação de facto, os tártaros desde então a terem ficado em minoria , a imperatriz favoreceu a implantação de colonos vindos da Europa do Oeste.
Em 1905, o poder do czar vacilou quando os marinheiros descontentes se revoltaram e organizaram um motim sobre a navio de guerra Potemkine, ancorado à entrada do porto de Sebastopol, desencadeando a Revolução de 1905-1907.
Depois da revolução de 1917, a Crimeia conheceu os males da guerra civil. Durante anos , nem o revolucionário bolchevique nem os russos brancos restantes fieis ao czar conseguiram tomar o seu controlo. Foi apenas em Novembro de 1920 que o Exército Vermelho, sob a condução de Mikhaïl Frounze, expulsou os últimos combatentes brancos da península .
No Outono de 1941, as tropas de Hitler marcharam sobre a Rússia e invadiram a península. Só a fortaleza de Sebastopol pode ser conservada pelo Exército Vermelho, que conseguiu ter êxito e opor-se durante 250 dias de cerco antes de abandonar a cidade. A Crimeia foi reconquistada em 1944 pelo Exército Vermelho no fim de combates sangrentos, durante os quais a cidade de Sebastopol foi reduzida a cinzas. Somente 9 casas permaneceram intactas. Churchill ele próprio ficou comovido quando visitou a cidade em 1945, à margem da conferência de Yalta, e declarou que seria necessário pelo menos de 50 anos para reerguer a cidade. Estaline, foi assim levado a declarar então a reconstrução de Sebastopol como prioridade nacional, o que conseguiu fazer em cinco anos ao preço elevadíssimo de privações e de esforços sobre-humanos. A partir de 1945, concedeu à cidade o título de cidade-herói da União Soviética. Na qualidade de base principal da frota do mar Negro, o acesso a Sébastopol foi muito tempo proibido aos estrangeiros.
. Mas que sabem de tudo isto Barak Obama e os democratas que acreditam que os dogmas do presente podem dispensar os conhecimentos do passado.
UKRAINE- CRIMÉE : DU DROIT DE LA DÉMOCRATIE À DISPOSER DES PEUPLES, L’ingérence nous met au bord de la guerre
Texto publicado pela Revista Metamag, cujo endereço é : http://metamag.fr/
Ver: http://metamag.fr/metamag-1867-Ukraine-Crimee–du-droit-de-la-democratie-a-disposer-des-peuples.html
… Pois é! Veja-se o caso de Isreal! Interessante como os mesmos que agora defendem a autodeterminação da Crimeia invertem o argumento quando se trata da autodeterminação Isrealita!
Façam da Crimeia um país independente. Façam da Palestina um País independente – claro que terá de ser à força…