Tempos Sombrios – por José Peixoto*

*Pelo Teatro dos Aloés – Amadora, Março de 2014

Imagem1Noite de Guerra no Museu do Prado – Água-forte, em um prólogo e um acto – é a homenagem de Rafael Alberti cheia de reconhecimento e gratidão pelas mulheres e pelos homens que vivendo em tempos sombrios encontraram a força, a coragem, a generosidade e a energia, para lutar pelos altos valores da liberdade, da justiça, da fraternidade, da democracia até ao sacrifício da própria vida.

É a memória e a evocação de um exilado que vinte anos depois revive a sua participação no salvamento das obras do Museu do Prado dos ataques fascistas do levantamento de 18 de Julho contra a República eleita democraticamente.

Mas a memória do cerco e da resistência do povo de Madrid de 1936 conduz-nos rapidamente a equivalente situação de luta contra as tropas francesas em 1808 que Goya tão fortemente registou. E enquanto os milicianos da República levantam barricadas e transportam os quadros para as caves, as figuras dessas obras saem das pinturas para se juntarem generosamente aos resistentes, partilhando dos seus anseios, do seu ardor combativo do seu humor, da sua coragem. Cruzam-se memórias e realidades, mas é sempre o mesmo povo que enfrenta as tropas e que continuará a maior força na luta pela liberdade e pela transformação do mundo.

O nosso espectáculo pretende ser também uma homenagem aos que em Portugal lutaram durante 48 anos contra o fascismo, ao povo que saiu à rua para se juntar ao Movimento das Forças Armadas e ao próprio MFA que nos devolveram a Liberdade e nos permitiram a Democracia.

Queremos homenagear também o Movimento do Teatro Independente que lutou para que o teatro pudesse ser livre, também uma arma contra o fascismo e pela Democracia.

Pessoalmente não poderei deixar de evocar Mário Barradas, meu Mestre, que continuamente lutou pela transformação da realidade teatral no nosso país, e primeiro encenador deste texto em Portugal. De igual modo quero manifestar a minha gratidão aos Bonecreiros, minha porta de entrada para o teatro profissional, que nunca se cansaram de lutar pela liberdade. E a minha homenagem vai também para os meus companheiros de trabalho, os que encontrei quando me iniciei, que me guiaram e me ajudaram nesta difícil profissão, mas também aos de hoje que continuam essa mesma luta.Imagem1

O nosso espectáculo pretende ser ainda um exorcismo contra a guerra, um alerta contra os inimigos que estão outra vez à nossa porta, que querem destruir a sociedade que construímos, a Constituição que Abril nos legou, para que não voltemos mais aos tempos obscuros dos senhores da opressão.

E nestes 40 anos de Abril apetece-me gritar bem alto “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”.

 

Nota:

Veja mais em:

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TEATRO DOS ALOÉS – NOITE DE GUERRA NO MUSEU DO PRADO – NOS RECREIOS DA AMADORA – HOJE, DIA MUNDIAL DO TEATRO – ENTRADA LIVRE

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