CARTA DE VENEZA – 81 -por Sílvio Castro

veneza

GUIMARÃES 2012, CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA

                                                                                                   

                        Entre as principais cidades portuguesas, Guimarães ocupa desde sempre uma posição privilegiada. Feita de uma longa história, corporificada pelos seus numerosos e preciosos monumentos arquitetônicos, berço da nacionalidade, a preciosa cidade do Minho se fez, desde o século XII, foco da modernização começada por D. Afonso Henriques. Ali a história política sempre se identificou com aquela cultural. Por isso, em Guimarães se concentra a primeira reunião das Cortes, daí derivando resultados revolucionários, como a criação do conceito de municipalização, que porta o já vivido Condado Portucalense a fazer-se em forma estável Portugal.

                Por todas essas razões, a decisão da UNESCO foi vista como uma tomada justa e coerente com a história do desenvolvimento da Europa.

                Desta maneira, o evento de 2012 se desenvolveu com pesquisas e publicações as mais diversas, tudo sob a ação da Fundação Cidade de Guimarães, presidida por João Serra.

                        Esta precisosa atividade acaba de alargar-se mais ainda com o valioso estudo de Emídio M. Ferreira, Um pensamento de pedra – Os jacentes duplos medievais e o túmulo dos Pinheiro na Colegaida de Guimarães, na edição datada do final de 2013, mas circulaçâo principalmente a partir do início do presente 2014. Trata-se de uma edição de bela apresentação gráfica, da autoria do atelier Martino e Jaña, edição realizada por Greca Artes Gráficas.

                Emídio M. Ferreira é docente e estudioso de História das Artes, mestre pela Universidade Nova de Lisboa, na qual apresentou, em 1986, a sua tese em quatro volumes, A Arte Tumular Medieval Portugesa (Séculos XII-XV). Por largo período de tempo exercita nas universidades italianas de Veneza e Pádua o leitorado de Língua e Cultura Portuguesas. Nos anos dessa sua atividade, o estudioso alarga ainda mais os seus conhecimentos da pintura italiana, conquistando um sistema estável sobre a matéria, desde a obra de Giotto até os pintores venezianos.

                O novo livro de Emídio M. Ferreira, mesmo se sempre impregnado de um domínio técnico do complexo assunto tratado, provoca nos leitores uma incontida atração consequente de vários fatores. Esses vão desde a valiosa estrutura erudita do trabalho, até o processo estilístico com o qual autor o realiza. Depois de um preâmbulo, o estudioso português desenvolve o seu estudo em 8 capítulos que cobrem um arco de história do chamado da chamada Idade Média de Portugal. O primeiro desses capítulos introduz o problema essencial da morte: “Dos mortos à morte – Considerações sobre a ideia de morte do século XII ao século XV, plasmada na arte tumular medieval portuguesa“. O grande enigma da vida dos homens se apresenta com amplidão de pontos de vistas, com um sistema analítico de apressável profundidade, tudo isso subordinado à demonstrada rara erudição de Emídio M. Ferreira. Naturalmente, como sempre acontece com as análises do grande tema, ao lado de tantas iluminações, surgem nele espaços abertos a futuras abordagens.

                    Logo depois deste primeiro capítulo que suporta o peso de todo a complexidade igualmente presente nos demais, o autor apresenta aquele que possivelmente é a mais atraente parte do volume: “ II Capítulo – Dois túmulos falantes: Pedro e Inês“. Isso ainda que, logo ao início do dito capítulo, o autor ressalve com absoluta clareza::

                        “ Os túmulos de D.Pedro I (1320-67) e de D. Inês de Castro (c. 1325-55), em rigor, como já foi dito, não deveriam ser tratados aqui, já que este é um estudo sobre os túmulos com jacente duplo e estes são individuais.“

                Porém, a matéria desse segundo capítulo, conjugado com a quela do primeiro, completa a sempre inacessível completa abordagem da história dos homnes e da morte, pois o amor – ele também quase indominável quanto à sua verdadeira dimensão – é a grande expressão da vida humana. E aqueles vividos por Pedro e Inês podem ser tomados como paradigma de todas as mudanças porque possa passar o homem na sua sempre curta existência.

                Depois de formada definitivamente tal equação, as análises pormenorizadas dos seis túmulos duplos do século XV se realizam com grande clareza. Tudo visto diante do túmulo dos Pinheiro, numa Guimarães de fascinante atração.

                O livro de Emídio M. Ferreira se apresenta ao público português contemporâneo como um produto que enobrece a cultura de Portugal.

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