QUANDO OS CHINESES TOMAM PÉ NAS EMPRESAS OCIDENTAIS: O QUE ELES VÊM PROCURAR

Selecção e tradução por Júlio Marques Mota

Quando os Chineses tomam pé nas empresas ocidentais: o que eles vêm  procurar

O protocolo de acordo entre Dongfeng e PSA Peugeot Citroën publicado, o construtor chinês entra no capital do grupo francês. As marcas e as tecnologias europeias são cada vez mais cobiçadas pelos Chineses.

 Em breve seremos todos chineses?

Atlantico

19 février 2014

chine_17Os Chineses investem cada vez mais no estrangeiro. Crédit Reuters
Parte I

Atlantico : O aumento dos investimentos chineses no estrangeiro impõe-se como uma evidência desde há vários anos. Na Europa, os Chineses são mesmo mais activos do que o são os Europeus na China. Porque são as marcas e as tecnologias do Velho continente assim são cobiçadas pelos Chineses ?

Jean-François Di Meglio: Isso é uma falsidade: os Britânicos e os Franceses têm em especial uma forte marca na China. Schneider, PSA, à frente dos investimentos cruzados dessa altura, Alstom, Airbus, Encruzilhada, Saint-Gobain têm capitais muito importantes investidos na China. É de resto uma das razões que fazem com que os défices comerciais sejam um engano . A França reimporta às vezes produtos fabricados na China com capitais franceses, como os Americanos o fazem com as sucursais dos seus próprios grupos.

As marcas e as tecnologias “do Velho continente” como por exemplo a química de Rhodia (Adisseo) comprada por Blue Star, algumas indústrias mecânicas de luxo ou de alta tecnologia (barcos Ferreti em Itália, aparelhagem hi-fi Bang & Olufsen, motores Beaudouin em França, Mc Cormick França para os tractores) interessam os Chineses quer porque permitem progressos com base em tecnologias dominadas pelos Chineses de maneira elementar mas sobre as quais eles poderão “sobrepôr” patentes avançadas “compatíveis” ou melhorias particularmente adaptadas ao mercado chinês (o caso da fiabilidade dos motores diesel de barcos, muito lentos mas muito fiáveis e suportando neste caso os motores Beaudoin)

Dito isto, não é necessário falar de “convoitise”: esta forma d efazer as coisas é cuidadosa, consciente das dificuldades, e os investimentos reais são uma fracção das capacidades reais de investimento dos grupos chineses. Os investimentos chineses no estrangeiro, mesmo em volume total (por exemplo menos de três mil milhões de euros somente em França, nestes incluindo o investimento na Peugeot-Citroen. ) são mesmo uma fracção dos fluxos anuais recebidos pela China (ligeiramente menos que 100 mil milhões de USD por ano).

Antoine Brunet: É necessário compreender onde é que se está. A República Popular da China dispõe de 5,300 Milhões de milhões de reservas cambiais ( e nestes estão incluindo os fundos do Sovereign Wealth Funds) enquanto que Hong Kong dispõe 800 milhares de milhões de dólares . A China por conseguinte acumulou, graças aos seus excedentes comerciais colossais e repetidos, tornando-se uma formidável potência financeira. Mas, assim como ela o declarou fortemente desde o início de 2012, a China recusa absolutamente utilizar esta potência financeira para se tornar o banqueiro do mundo. A China sabe muito sabe que se emprestasse maciçamente à Europa do Sul ou à Europa do leste ou à Ucrânia, à Turquia, à Índia ou à Argentina, expor-se-ia a não ser reembolsada plenamente. Nesta lógica, longe de se transformar em banqueiro do mundo (o que os dirigentes demasiado ingénuos esperavam), a China prefere realmente transformar-se em depredador do mundo.

A China propõe-se utilizar uma parte das suas enormes reservas cambiais para adquirir os activos do planeta que têm a dupla característica de serem estrategicamente interessantes e estarem disponíveis para a compra.

Ela rejeita os títulos de dívida governamental ou de dívida bancária como pouco interessantes (excepto se puder esperar graças a eles puder a prazo colocar o país inteiro sob o seu controlo. Prefere concentrar-se sobre as jazidas de recursos naturais incluindo-se aqui até mesmo os recursos turísticos (é o sentido que é necessário dar ao resgate de Club Med por Fosun). Prefere também concentrar-se sobre a compra de empresas industriais porque são portadoras de patentes, centros de investigação, de “knowhow” e de marcas comerciais, todas as coisas que adicionalmente podem aumentar ainda mais a parte das empresas sino-chinesas sobre o mercado mundial dos produtos manufacturados.

Os Estados Unidos que, desde o princípio de 2011, se consideram em guerra fria com a China, fazem obstrução às aquisições sou aos resgates feitos pela China (duas grandes excepções contudo: após ter deixado Lenovo comprar o ramo computadores de IBM em 2005, eles acabam agora de comprar no início 2014 o ramo servidores de entrada de gama de IBM; os Estados Unidos também deixaram no início de 2014 que Google vendesse o ramo smartphones de Motorola ao mesmo Lenovo).

O Japão, que sempre foi reticente à aquisição por estrangeiros das suas empresas por empresas estrangeiras e que está sob a tensão diplomática recorrente com a China desde 2010 faz também ele forte obstrução às tentativas chinesas.

Vejamos agora a Europa. Desde o princípio de 2012, a China, tem a seu favor a crise do euro, e assim desfizeram-se as reticências europeias quanto á aquisição de empresas europeias pelos chinesas (geralmente empresas estatais). Como é que o conseguiu ? Quando Bruxelas procurava em 2011 capitais estrangeiros para financiar o dispositivo MEE, (o mecanismo europeu de estabilidade) para financiar os países da Europa do Sul, é a Alemanha e a senhora Merkel que foram designados para negociar com Pequim. Nunca se soube exactamente a que acordo chegaram, que acordo terão concluído. Mas soube-se em Novembro de 2011 que, entre as contrapartidas exigidas por Pequim, havia o compromisso europeu de não colocarem obstáculos às compras de empresas europeias por Pequim. E vê-se, a partir do princípio de 2012, a senhora Merkel a deixar Pequim apoderar-se de boas PME industriais alemãs, que estavam perfeita saúde financeira.

Em suma, não temos que ficar surpreendidos, dado tudo isto, ao ver agora Pequim multiplicar as operações de compras de empresas industriais na Europa.

 Pequim concentra as suas compras de empresas industriais na Europa porque é apenas na Europa que as autoridades os deixam agir e apropriarem-se de activos industriais.

A tomada de participação do chinês Dongfeng no capital de PSA Peugeot Citroën é revelador da estratégia global da China na aquisição das empresas europeias? Ou é isto n um caso particular ?

Jean-François Di Meglio : É sem dúvida um ato anunciador mais do que uma ruptura com o que se tem feito até agora, ou seja uma longa negociação e uma parceria de mais de dez anos, praticados, atravessado por múltiplas dificuldades, de múltiplos obstáculos. Os pouco exemplos deste tipo existem. O investimento cruzado é produtivo e coroa o resultado destes esforços no tempo: PSA obtém mais lucros só na China do que no resto do mundo. Citroën fabrica mais automóveis ali do que na França, e Peugeot apenas um pouco menos.

Antoine Brunet: Mais uma vez, Pequim fixou as suas escolhas sobre a Europa dado que esta está mais aberta a que a China adquira aqui empresas que os Estados Unidos ou o Japão. Para as PME industriais, o movimento é lançado na Alemanha, a Itália e na França. Para as grandes sociedades cotadas em bolsa, Pequim ainda é obrigada a esperar por situação de dificuldades financeiras para se apresentar como o cavaleiro branco. É assim que já se pode apropriar de Volvo Automobiles em 2010 e é assim que se apropria de PSA agora.

Pode-se garantir que se recentemente, Microsoft não se tivesse apresentado para comprar a divisão telefonia de Nokia, seria uma empresa chinesa que teria feito a sua aquisição. A menos que o acordo estabelecido por Merkel com a China seja posto em causa haverá muitas outras sociedades industriais europeias cotadas que serão comidas por Pequim.

Deve-se ter medo da mão posta pela China sobre as nossas empresas? Se sim, quais as razões?

Jean-François Di Meglio: É necessário sobretudo avisar a China contra a ausência de reciprocidade no que é tolerado de uma parte e de outra. A Europa levanta muito poucas barreiras aos investimentos, enquanto que mesmo as barreiras existentes podem às vezes ser fonte de diálogo, de etapas a cruzar. A China pôs desde o princípio, barreiras e que ainda subsistem (nos seguros, na banca, nas telecom) que travam a expansão das empresas internacionais sobre o seu próprio território. E isto é assim porque a China não colocou todos os sectores domésticos sobre as normas de comportamento internacionais, isto é sob a concorrência internacional, e que uma entrada dos estrangeiros seria prejudicial (na banca por exemplo, e no sistema financeiro), enquanto que nós nos sentimos mais fortes- às vezes sem razão.

Antoine Brunet: Se a deixarmos fazer, a China continuará a apropriar-se das nossas empresas industriais. Mesmo que a empresa chinesa absorvente se digne manter-se no local algumas unidades de produção, as nossas ex-empresas industriais cessarão de poder ter o seu papel anterior. Encontrar-se-ão na situação de filiadas e responderão à estratégia determinada por Pequim e não às pretensões da nossa colectividade nacional.

Como além disso as nossas PME industriais e os nossos startups vêem o seu desenvolvimento asfixiado pela super-competitividade que emana dos produtos made in china, não se vê como vai poder manter-se o nosso tecido industrial à medida que o capital chinês absorve as grandes sociedades cotadas umas atrás das outras .

(continua)

_____

Ver:

http://www.atlantico.fr/decryptage/quand-chinois-prennent-pied-dans-entreprises-occidentales-qu-viennent-vraiment-chercher-antoine-brunet-jean-francois-di-meglio-986279.html

Leave a Reply