Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
Um olhar: o lado escuro do milagre de postos de trabalho da Alemanha
SARAH MARSH AND HOLGER HANSEN
STRALSUND, Alemanha
Reuters – 8 de Fevereiro de 2012
PARTE II
(conclusão)
…
O caminho para nenhures
Os críticos dizem que as reformas da Alemanha custaram um preço muito alto porque estas estão fortemente assentes no sector de baixos salários e de salários em baixa, levando a um mercado de trabalho fortemente divido em dois.
Novas categorias de empregos de baixos rendimentos, de empregos subsidiados pelo governo – um conceito que está a ser considerado em Espanha – provaram ser especialmente problemáticas. Alguns economistas dizem que lhes saiu o tiro pela culatra.
Estas categorias de empregos foram criadas para ajudar aqueles com más perspectivas de emprego e que eventualmente se poderiam assim reintegrar no mercado de trabalho regular, mas diversos estudos mostram que para muitas pessoas este caminho não as levou a lado nenhum.
Os empregadores têm pouco incentivo para criar postos de trabalho regulares e a tempo inteiro se eles sabem que podem contratar trabalhadores em contratos flexíveis.
Um em cada cinco empregos é agora um “trabalho mini”, ganhando os trabalhadores um máximo de 400 euros por mês, sem impostos. Para cerca de 5 milhões, este é o seu principal emprego, cuja promoção exigiu difíceis campanhas publicitárias financiadas com dinheiros públicos.
“Empregos regulares e a tempo inteiro estão a ser substituídos por empregos em regime de “mini-empregos,” disse Holger Bonin da consultoria ZEW, sediada em Mannheim.
E há pouco que se possa legalmente contrapor aos empresários contra a sua utilização de empregos “mini-empregos”, pagos a baixo custo horário dado que eles sabem que o governos os pode incentivar a emprega-los uma vez que a Alemanha não nenhum salário mínimo legal.
Os sindicatos e os empregadores na Alemanha optam tradicionalmente por acordos colectivos, argumentando que um salário mínimo legal poderia matar postos de trabalho, mas estes acordos só cobrem um pouco mais de metade da população e podem ser contornados.
“Muitos dos meus amigos trabalham como carpinteiros, mas as empresas descrevem-nos como zeladores em seus contratos para evitar pagar o salário negociado no acordo colectivo salarial,” disse um homem desempregado de 33 anos de idade em Stralsund, que não quis dar o seu nome.
A desregulamentação do trabalho temporário também deu aos empregadores menos incentivos para contratarem trabalhadores protegidos por acordos com protecção do emprego e salário decente. Os trabalhadores temporários, são frequentemente mais mal pagos que os seus colegas de equipa de trabalho na Alemanha.
Salários baixos para os mini-jobbers e aumento da pressão sobre os desempregados para conseguir obter um emprego tiveram um impacto deflacionário sobre os salários, dizem alguns economistas.
RE-REGULARIZANDO
A desigualdade salarial era considerada ser muito baixa tanto na Alemanha como nos países nórdicos, mas esta desigualdade aumentou acentuadamente na última década.
Os trabalhadores de baixos salários ganham menos em relação à mediana na Alemanha do que em todos os outros Estados da OCDE excepto na Coreia do Sul e nos Estados Unidos.
“Os pobres têm claramente perdido a favor da classe média, mais ainda na Alemanha do que noutros países,” disse a economista Isabell Koske , da OCDE.
Os salários deprimidos e a insegurança no trabalho também mantiveram um travão sobre a expansão na procura interna, o calcanhar de Aquiles da economia alemã que é uma economia dependente das exportações, para exasperação dos seus vizinhos.
“A procura de importações é baixa, e apesar de que a Alemanha seja uma das economias de melhores resultados na zona euro, esta poderia contribuir melhor para um resultado mais forte dos seus países parceiros,” disse Ekkehard Ernst da organização internacional do trabalho (OIT).
Com as eleições de 2013 iminentes e os países europeus vizinhos a reclamarem dos desequilíbrios comerciais, os dirigentes da Alemanha voltaram a colocar a questão dos baixos salários na ordem do dia.
A Chanceler Merkel planeia introduzir um salário mínimo para os sectores que ainda o não tem e o Ministro do Trabalho Ursula von der Leyen está em campanha a favor dos trabalhadores temporários receberem tanto quanto os seus colegas.
“O facto de que temos um governo conservador que está a discutir o estabelecimento de um salário mínimo – isto já quer dizer qualquer coisa disse Enzo Weber do Institute for Employment Research (IAB), na Alemanha..
Qualquer que seja o governo que vem a seguir, as medidas para tornar a força de trabalho mais flexíveis não pegará ao mesmo ritmo. Chegámos a uma posição crítica e penso que não se pode ir muito mais longe.”
Ernst da OIT diz que a Alemanha só pode esperar que outros países europeus não tentem reproduzir as suas próprias políticas salariais deflacionistas de muito perto, porque assim a procura irá secar: “se toda gente fizer a mesma coisa não haverá ninguém capaz de poder exportar para os outros.”
SARAH MARSH AND HOLGER HANSEN, Insight: The dark side of Germany’s jobs miracle, Reuters, 8 de Fevereiro de 2012
(Additional Reporting by Brian Rohan and Victoria Bryan; Editing by Stephen Brown,Annika Breidthardt, John Stonestreet and Noah Barkin/Janet McBride)
http://www.reuters.com/article/2012/02/08/us-germany-jobs-idUSTRE8170P120120208
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Para ler a Parte I deste trabalho de Sarah Marsh e Holger Hansen, publicada ontem em A Viagem dos Argonautas, vá a: