Acordei esta noite com o gotejar da chuva monótono sonolento
Dormia comigo a saudade e comigo acordou amargando horas sem raízes no tecer de angústias e desânimos
Pura fantasia a textura dos sentimentos
Os galos cantavam ao longe no romper da madrugada e a claridade incerta da janela abria mansamente os meus olhos que sonhavam
Ousei tocar a mão branca sabendo que tocava o lado esquecido da vida
Tinhas morrido já na véspera o sabia mas esqueceu-mo o dormir
Fugi para a cidade e vagueei pelas ruas adormecidas até os galos calarem o seu cantar
Por baixo de um céu de nuvens levei meus passos para o lado do mar
As ondas abriam-se nos rochedos negros e eu não tive medo
Deixei que as pernas me pesassem ao longo da praia em passos leves de areia fina
Ilustração – Quadro de Adão Cruz