POESIA AO AMANHECER – 434 – por Manuel Simões

 

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                                   JORGE DE LIMA

                                   ( 1895 – 1953 )

            MISSÃO E PROMISSÃO (X)

            Não a vaga palavra, corrutela

            vã, corrompida folha degradada,

            de raiz deformada, abaixo dela,

            e de vermes, além, sobre a ramada;

 

            mas, a que é a própria flor arrebatada

            pela fúria dos ventos: mas aquela

            cujo pólen procura a chama iriada,

            – flor de fogo a queimar-se como vela;

 

            mas aquela dos sopros afligida,

            mas ardente, mas lava, mas inferno,

            mas céu, mas sempre extremos. Esta sim,

 

            esta é que é a flor das flores mais ardida,

            esta veio do início para o eterno,

            para a árvore da vida que há em mim.

            (de “Invenção de Orfeu”)

Médico, romancista, crítico, Jorge de Lima foi sobretudo um grande poeta. A sua obra inspira-se em aspectos sociais da vida dos negros (basta pensar no famosíssimo poema “Essa Negra Fulô” – 1928) mas, ao mesmo tempo, abrande valores universais e até transcendentes (“Invenção de Orfeu”, 1952). Outros livros: “XIV Alexandrinos” (1914), “Poemas” (1929), “Tempo e eternidade” (1935), “A Túnica Inconsútil” (1938), “A Anunciação e Encontro em Mira-Celi” (1940).

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