CARTA DE LISBOA – Noivos de António – por Pedro Godinho

lisboa

 

 

Andam excitados pelo clube rosa e, finalmente, dão mostras dalguma energia, de terem algum sangue nas veias.

O António e o António discutem o lugar.

Discutem o lugar, discutem estatutos, regras e procedimentos. Só não discutem política e políticas. Curiosamente, isso parece não os preocupar, nem a eles nem às suas claques, que parecem interessar-se apenas pela vitória na dança das cadeiras.

Alinham-se as tropas, em sentido, atrás do chefe que julgam com mais hipóteses de os levar de volta aos cadeirões, cadeiras e cadeirinhas do poder.

Uma vez posto o socialismo na gaveta não mais foram capazes de o tirar para fora e, arco da governação oblige, deixaram-se tomar de assalto por aqueles que lá estão como poderiam estar noutro instrumento, ou veículo, de acesso e manutenção de poder, que não têm vida própria fora do clube, que não têm pensamento político ou ideias que não sejam as da intriga, do golpe e dos fins, sem olhar aos meios.

E lá vão, alegretes, a caminho da próxima maioria, animados pela ideia de regresso ao veludo e sinecuras – e aos vários níveis e locais os senhores do aparelho sabem que uns pedem muito mas outros contentam-se com um pouco pelo que vão podendo fazer as promessas com que os arregimentam.

E quem não é do grupo (quem não salta…) não conta.

Mas o mundo é incerto, e as surpresas poderem vir de onde menos se espera – por exemplo inesperadas presidenciais antecipadas ou a emergência duma bem sucedida alternativa populista  ou, porque não sonhar, uma verdadeira opção democrática e de cidadania.

No entanto, parece mais provável é que a nova maioria seja fina e acabemos no abraço de urso do bloco central, que, no seu autointeresse, tudo abafa, em votações singapurianas, decidindo que só existe o que eles afirmarem que existe, mesmo contra a realidade.

E, sob a égide dum Aníbal, o António que ganhar ao António entender-se-á com um outro Pedro, afastado o primeiro, com quem bloco-centrará, no interesse do trio mas não do país.

Resta saber se o pote, ainda, chega para o casal e cortes.

 

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