Tento fechar os olhos com força para ver no escuro a luz dos teus dedos e das rosas e o afago e a carícia e o olhar que a vida não tem
Tento à luz deste vento carregado de todos os espaços e luzes não ter olhos de ouvir outra voz e de ver o som da água no reino da sede e dos musgos
Talvez eu sinta ainda o tojo agreste da encosta do outeiro tão longe tão distante tão verdadeiro como o cristal dos teus olhos
Talvez quem sabe eu sinta ainda a verdade-mentira do sopro de Deus aos predadores da razão
Na fluidez desta manhã quero sentir o silêncio de tudo a liberdade das pálpebras cerradas sofrendo-sonhando tempos de nuvens densas de amor sem voz e sem face
Quero dormir esse rosto engelhado de luz a palha centeia do teu regaço as tuas mãos brancas de seda enrugada quero ser o perfume das rosas que te iludem e ainda prendes entre os dedos…mãe
Ilustração – quadro de Adão Cruz