MATIAS MENDES
( 1949 )
O FADO DAS ORIGENS
Legítimo descendente dos quilombos,
Trago nas veias o sangue de uma raça
Que foi caçada e escravizada em massa
E teve chagados de chicotes os lombos.
Tenho as raízes distantes nos escombros
De um povo arrastado à terrível desgraça
Pelo ignóbil engodo de pérfida trapaça
Que ainda hoje pesa nos meus ombros…!
Trago de uma remota ancestralidade
A mística tenebrosa das florestas virgens,
A marca cruciante de uma antiga saudade…
Sou o herdeiro da dor, das múltiplas vertigens,
Do sangue derramado em prol da liberdade,
Pelo meu povo privado das origens…!
(de “Reflexos…”)
Poeta e ensaísta brasileiro. Conhecido como o poeta do Guaporé. Antologiado em “Reflexos da Poesia Contemporânea do Brasil, França, Itália e Portugal” (2000). Da sua obra poética: “As Emoções e o Agreste” (1982), “As quimeras e o destino” (1983), “Apologia da Negritude” (1999), “A lira do crepúsculo” (2007).