Selecção e tradução por Júlio Marques Mota
MUNDIAL de 2014 e escândalos na FIFA
O Qatar: um erro para Sepp Battler!
Michel Lhomme, Revista Metamag, 23/06/2014
À margem do Mundial, há a crise social no Brasil mas também os escândalos da FIFA. De acordo com informações difundidas em Espanha, a FIFA prepararia um plano B relativo à organização do Mundial de 2022. A Federação Internacional teria pedido aos Estados Unidos para estarem prontos se a organização do campeonato do mundo de 2022 viesse a ser retirada das mãos do Qatar. Esta possível inversão da situação é uma sequência das acusações de corrupção que visam a atribuição do Mundiais 2022 ao Qatar.
Na sua edição especial do 1º de Junho, o Sunday Times afirmava num dossier muito completo que o campeonato do mundo programado para o Qatar em 2022 tinha sido comprado. A caixa do jornal afirmava: “A conspiração para comprar o campeonato do mundo”. O jornal expunha em detalhe os pagamentos secretos que ajudaram o Qatar a ganhar a organização do campeonato do Mundo graças à divulgação de arquivos explosivos compostos de milhões de documentos que tinham sido divulgados ao semanário. No dossier aparecia o nome das personalidades africanas subornadas mas também a de um francês, o tahitiano Reynald Temarii, antigo membro do FIFA e presidente da Confederação de Futebol da Oceânia desde 2004, que teria recebido 300.000 euros pelo seu “voto” em que representa a Oceânia.
A questão da compra pelo Qatar não é nova mas desta vez, o jornal britânico apresentou provas. Revelou documentos (cartas, emails, ficheiros bancários) que fazem acreditar na tese da compra. “Os milhões de documentos secretos” recuperados pelo Sunday Times provam nomeadamente a implicação de Mohamed Bin Hammam, o ex-presidente da Confederação Asiática de Futebol. Foi o personagem – chave para a compra do voto da Oceânia que estava então nas mãos do francês Reynald Temarii. O Qatar tinha na época como concorrente a Inglaterra e a Austrália. O voto da Oceânia teria geograficamente de ir para a Austrália ou eventualmente para a mãe pátria, o Reino Unido (a Austrália e a Nova Zelândia são membros do Commonwealth). É na verdade aqui e que Temarii, embora se disso defenda terá entrado em acção. O qatari, Bin Hammam, em 2011, já tinha sido banido para sempre de toda e qualquer actividade ligada ao futebol pela Federação Internacional de Futebol (FIFA) por ter tentado comprar votos enquanto que era candidato contra Sepp Blatter para assumir a direcção da FIFA.
Para a candidatura do Qatar, o Sunday Times mostra-nos que desenvolveu todo o seu zelo através de advogados ou sociedade de conselhos que no processo também intervieram como seus representantes. Mais de 5 milhões de dólares teriam assim sido gastos para assegurar-se do apoio de certos votos. O semanário britânico evoca também a estratégia posta em obra por Bin Hammam para influenciar directamente a escolha dos 24 membros do Comité executivo da FIFA. É aí que antes do voto, teria pago um pouco mais de 300.000 euros a Reynald Temarii e quase 330.000 euros à Jack Warner, um antigo Vice-Presidente da FIFA, demissionário em Junho de 2011. Como o recorda a BBC, o Qatar sempre assegurou que o sulfuroso responsável não tinha tido nenhum papel na obtenção do campeonato do mundo de 2022. A abertura do Mundial brasileiro com efeito eclipsou a onda de choque no mundo do futebol desencadeada por estas divulgações enquanto que há duas semanas, Sepp Blatter, o presidente da Federação internacional de futebol (FIFA) admitia que ter-se escolhido organizar o campeonato do mundo em 2022 no Qatar tenha sido talvez um erro.
Com efeito, o Vice-Presidente do Qatar na FIFA, Bin Hammam tinha utilizado caixas ocultas para fazer dezenas de pagamentos que totalizam mais de 5 milhões de dólares aos responsáveis do futebol mundial, a fim de criar uma vaga de apoio para impor o Qatar. Tratava-se então “de segurar ” os votos dos membros chave do Comité de decisão de 24 homens da FIFA de que o Qatar tinha necessidade para obter a sua nomeação. O Qatar é um minúsculo Estado sem infra-estruturas de futebol e ganhou mesmo assim o direito de acolher a maior competição desportiva do mundo. Temarii tinha sido suspenso na época por ter contado aos jornalistas do Sunday Times que lhe tinham oferecido 12 milhões de dólares pelo seu voto. Defende-se hoje de qualquer corrupção e responde a estas acusações: “Tenho sido ouvido sobre estes financiamentos já no início do ano 2013. São somas que existem e que permitiram financiar as minhas despesas de advogados, mas em nenhuma maneira este acompanhamento financeiro está ligado com a minha posição relativamente à atribuição da organização do campeonato do mundo de futebol de 2022 no Qatar”. Reynald Temarii não apresentará queixa por difamação contra o Sunday Times!
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