Este Seminário de investigação parte das seguintes ideias:
– “As acções públicas sobre os centros antigos ultrapassam hoje a simples generalização de prescrições protegendo monumentos ou espaços urbanos, elas implicam uma leitura pormenorizada das dinâmicas socio-espaciais. Esta já não se limita às intervenções sobre o alojamento. Com efeito, diferentes acções de valorização dos espaços públicos, de promoção das memórias dos locais e das populações encenam uma requalificação dos bairros centrais. Ora, numerosas pesquisas ilustraram o facto de que a promoção, valorização dos bairros «populares» centrais corre o risco de destruir o que ela elogia ao contribuir para canalizar interesses turísticos e (re) valorização dos alojamentos, o que torna possível uma “gentrificação” e a chegada de novas populações. Vários colectivos locais implementam ou opõem-se a essas intervenções públicas. Para certos grupos ou indivíduos as acções patrimoniais ou memoriais são recursos e contribuem para forjar identidades de acção. Ora, as dinamicas anunciadas ou temidas são frequentemente lentas e incompletas, novos e antigos habitantes coabitam, assim como os espaços valorizados, os sinais da «degradação» e os locais apresentando-se como formas «alternativas» / «não institucionais» de valorização cultural. Ao reduzir ao mesmo tempo os recursos públicos e a intensidade dos reinvestimentos privados, o contexto de crise generalizada nas cidades europeias parece manter certos bairros num estado de transição patrimonial. Em torno das questões do património e das memórias dos bairros populares centrais, os actores locais entram num regime de inter-relações que combinam e/ ou alternam : resistências, conivências, negociações, escapatórias, indiferença, aceitações.
Este seminário propõe por em comum e partilharas reflexões dos investigadores sobre os usos do património e das memórias nas dinâmicas dos espaços centrais que são tocados pela patrimonialização sem perderem totalmente as suas qualidades de «bairro popular». Este levantamento entre pesquisadores lusófonos e francófonos, vindos de disciplinas diferentes e terrenos variados, deveria conduzir-nos a debater quatro tipos de questões:
1 / O que dizem esses usos do facetamento do centro antigo da sua adaptação e dos seus ajustamentos perante os desafios com os quais está confrontado? Como se integram os bairros populares nos processos de patrimonialização e nas dinâmicas de valorizaçãodos centros antigos ?
2 / Como os utentes do território vêm e utilizam a encenação das suas memórias e das suas vidas, das suas figuras e dos conceitos importados para o bairro pelos poderes públicos ?
3/ Poder-se- á considerar que as intervenções patrimoniais e memoriais abrem um espaço público de debate sobre as identidades e evolução futura dos bairros populares centrais em fase de patrimonialização ?
4/ enfim, que dizem esses usos no que diz respeito às relações entre património, memórias e territorialização ? Poder-se-á falar de actualização local dos valores patrimoniais ? Que lugar para as acções públicas patrimoniais e memoriais na co-produção de certas formas de territorialização ?
Esta jornada de estudo, realizada em colaboração com a equipa Construction politique etsocialedesterritoires de L’UMR Citeres, o Laboratório Nacional de Engenharia civil (LNE) e a equipa CESNOVA1 tem por objectivo confrontar os trabalhos em curso ou realizados sobre a Mouraria com as problemáticas desenvolvidas noutros contextos urbanos.
A Mouraria inscreve-se no contexto que acabámos de desenvolver e parece tomada pelos mesmos questionamentos. Numerosos trabalhos tiveram lugar sobre este bairro do centro antigo de Lisboa. Estes, mobilizam investigadores e doutorandos lusófonos e francófonos desde há vários anos. É por isso que nos apoiaremos nesse bairro qualificado como «típico» tanto pelo município e os utentes como pelos investigadores. Consequentemente é importante que o que é observado na Mouraria possa ser perspectivado com outros bairros antigos de outras cidades a fim de tentar retirar tendências e elementos de comparação”.
Na 4ª feira, o Programa é variado, tem parte activa no Bairro da Mouraria com a antropóloga Marluci Menezes e confraternização com associações do Bairro. No dia seguinte, os investigadores abordarão o tema.
Para mais informações: http://centros-antigos-centres-anciens.webnode.fr/
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