SOBRE OS LEOPARDOS QUE QUEREM BEM SERVIR BRUXELAS – DA FRANÇA, FALEMOS ENTÃO DA POLÍTICA DE HOLLANDE. – AS REFORMAS SCHROEDER? NÃO, OBRIGADO. – ALTERNATIVES ÉCONOMIQUES

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 Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

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Leopardo - XXXII

 17. As reformas Schroeder? Não, obrigado

Alternatives Économiques

Manuel Valls recebeu de Angela Merkel a aprovação para o seu programa de reformas dito também de programa “schroediano”. E, contudo, trata-se de um impasse que só pode agravar a situação em França e na Europa..

É necessário inspirarmo-nos das reformas de além Reno aplicadas pelo Chanceler Gerhard Schröder no início de 2000. François Hollande tinha-o dito na semana passada, e Manuel Valls na sequência foi rapidamente solicitar a bênção de Angela Merkel para o seu programa de reformas à Schroeder. Trata-se no entanto de um impasse que só pode agravar a situação em França e na Europa.

O modelo alemão tem vantagens que se devem copiar…

O “modelo alemão” tem muitas características interessantes: um sistema de aprendizagem muito justamente invejado,  uma organização descentralizada do país que aumenta a resistência da sua economia e, especialmente, uma governança ao nível das empresas que é muito especial. O nosso vizinho é provavelmente o país do mundo onde as empresas pertencem menos aos seus accionistas e com um direito de veto dos comités de empresa onde metade é constituída pelos representantes dos trabalhadores e a outra metade constituída pelos accionistas. Seria necessário realmente inspirarmo-nos nestes princípios o que é difícil tanto quanto estes estão intimamente ligados à história particular dos nossos vizinhos.

Mas estes princípios não estão do lado das reformas de Schroeder

Pelo contrário, as reformas, lideradas por Gerhard Schröder minaram profundamente a economia e a sociedade de além Reno ao fazerem  da Alemanha um país onde agora a pobreza – especialmente dos idosos – e as desigualdades – especialmente entre homens e mulheres – se tornaram mais fortes do que em França. A austeridade aplicada por Schroeder à despesa pública não impediu os défices de terem aumentado – acrescentaram  380 mil milhões de euros à dívida pública alemã – por causa da estagnação que a austeridade aplicada por Schroeder provocou. Mas esta levou a uma deterioração acentuada das infra-estruturas colectivas devido ao sub – investimento crónico em infra-estruturas. Ela também impediu o pais de se dotar de estruturas para as crianças o que agravou os seus problemas demográficos.

A Alemanha recuperou-se,  apesar de Schröder e não graças a ele

Se apesar disto a Alemanha recuperou nos últimos anos é porque beneficiou das vantagens de curto prazo deste declínio demográfico, de menos despesas para as pessoas jovens e de menos empregos a encontrar para os empregar e especialmente da inexistência de uma bolha imobiliária, a Alemanha também aproveitou a queda do muro, integrando no seu sistema produtivo os países de baixo custo salarial da Europa Central e Europa Oriental e da sua especialização – antiga – em máquinas ferramentas e em grandes automóveis de luxo quando a procura dos países emergentes – e em especial a da China – disparou à alta. Mas isto não tem nada a ver com Gerhard Schröder.

As reformas à Schröder na França, isso seria fazer o jogo de Marine Le Pen

Se as reformas de Schroeder não tiveram um impacto negativo foi somente porque, naquela época, a Alemanha era, felizmente, a única a aplicar uma política tão anti-social como a que foi aplicada. Se a França se empenha, por seu lado, em aplicar uma semelhante receita, isto não será, obviamente uma situação semelhante. Seguir os passos de Gerhard Schröder é, para a França e para a Europa, a certeza de se afundarem numa profunda e prolongada estagnação, altamente custosa em termos de desemprego, o que impedirá não só restabelecimento das contas públicas como levará ao seu agravamento. Portanto, assumir esta via seria então correr um enorme risco à democracia e isto num país onde a extrema-direita atinge já impressionantes percentagens eleitorais impressionantes assim como à própria construção europeia que não poderá ser capaz de resistir aos danos sociais que esta dinâmica não deixará de provocar.

Alternatives Economiques, Les réformes Schröder ? Non merci.

Texto disponível em :

http://www.alternatives-economiques.fr/les-reformes-schroder–non-merci_fr_art_633_69330.html

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