A propaganda do reino espanhol tem-se fundado na defesa da legalidade, a partir da Constituição em vigor desde 1978, desenhada para fazer a transição do regime franquista para o sistema actual. Entretanto, fica de fora o problema, essencial à democracia, que é o da vontade dos cidadãos e do seu direito a exprimi-la. No caso da proibição do referendo de 9 de Novembro, é óbvia a contradição. Daí um mal estar crescente nas fileiras dos contrários à realização da consulta/referendo. O editorial de El País de sábado passado, 1 de Novembro, (Un paso corto) exprime claramente esse mal estar, quando reconhece que “… la suspensión del evento puede conllevar consecuencias políticas aún más negativas que las que pudiese acarrear su celebración.” Depois defende que os catalães não estão proibidos de votar, têm é que o fazer dentro da legalidade.
Ontem, novamente El País avança com uma hipótese de solução para o imbróglio: que a consulta/referendo seja promovida não pela Generalitat, nem por quaisquer entidades oficiais, que teriam que cumprir a lei, mas por associações cidadãs. Vejam este link:
Claro que esta hipótese não dá uma solução minimamente satisfatória. As associações cidadãs, por muito boa vontade e meios de que disponham, dificilmente conseguiriam, em dois ou três dias, por de pé uma máquina administrativa capaz de criar as condições mínimas para uma participação condigna dos eleitores catalães (a Catalunha tem cerca de 7 500 000 de habitantes). Mesmo que se adie o acto, com consequências imprevisíveis, não se pode garantir que os obstáculos sejam removidos, de modo a assegurar a participação de todos os que o desejem. Há motivos ponderosos para acreditar que a participação será muito mais reduzida do que se fosse um acto oficial. E em caso de vitória do sim à independência, é mais do que previsível que os centralistas o procurarão dar por não vinculativo, e que o tentarão desacreditar por todos os processos.
