EDITORIAL – UM PAÍS GOVERNADO POR INIMPUTÁVEIS

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O caso dos submarinos, a lista dos vips e as auto-estradas a mais que existem no nosso país, são apenas alguns exemplos das numerosas ocorrências, que não deveriam ter tido lugar,  e que custaram caro ao erário público. Pior ainda do que terem acontecido é como se está a processar a discussão à sua volta: desde negar-se a existência do caso, como acontece com a lista dos vips, a sacudir as responsabilidades pela dilapidação do nosso dinheiro e até a querer impedir que se fale no assunto (o caso dos submarinos), tem valido tudo.

É verdade que, no passado, alguns responsáveis políticos se afastaram do poder após acontecimentos graves, em que a responsabilidade pela ocorrência pertenceu inequivocamente a serviços públicos, e portanto ao estado. Sem querer neste momento analisar a história, ou responsabilidades individuais, afirmamos contudo que essas tomadas de posição foram excepcionais, dentro de um conjunto em que o procedimento mais habitual é não assumir as responsabilidades. Também sem querer entrar em moralismos fáceis, afirmamos que o assumir responsabilidades seria, nos casos acima referidos, e em outros, de maior ou menor dimensão, uma prova de civismo e de dignidade, e que não poria necessariamente em causa a competência e a capacidade de quem o fizesse.

Porque não acontece, ao menos com mais alguma frequência do que o tem ocorrido? Isso deve-se, em primeiro lugar, à intrincada teia de interesses que existe à roda dos assuntos do estado. Arriscar-se a ter de assumir culpas por tudo, quando as situações derivam de decisões erradas de vários quadrantes, ou de práticas há muito enquistadas, requer uma coragem e uma capacidade de sobrevivência que não estão ao alcance de muita gente. Por outro lado, em Portugal, ainda subsiste a propensão para uma minoria achar que os assuntos que dizem respeito a todos devem girar em primeiro lugar em função das suas próprias conveniências. Os donos de Portugal, ultimamente, têm conhecido dissabores significativos, mas continuam lá. E há candidatos para os seus lugares. O primeiro privilégio que reclama alguém que se acha dono de tudo é fazer os outros pagarem pelos seus erros.

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