Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
A economia da Finlândia sofre de estagnação secular?
Edward Hugh, Is Finland’s Economy Suffering From Secular Stagnation?
A Fistful of Euros, 27 de Março de 2015
(continuação)
…
Perda de competitividade.
“A economia da Finlândia tem ficado para trás dos seus vizinhos nórdicos e parceiros do euro, no que o primeiro-ministro Alexander Stubb chama uma “década perdida”. Os aumentos salariais estão suspensos, depois de um boom de salários durante os dias de glória da Nokia que deram origem a uma diferença de salários de cerca de 20 por cento com os principais parceiros comerciais do país, a Suécia e a Alemanha. “Precisamos de eliminar a diferença de custos que existe para com a nossa concorrência”, disse Jyri Hakamies, que lidera a Confederação das indústrias finlandesas, o principal grupo de negócios. “Isso levará anos. Ao mesmo tempo, os acordos salariais devem-se tornar mais flexíveis e a produtividade deve melhorar para dar o pontapé de saída para o crescimento económico e criar empregos”.
Em 2007, quando os países tinham a sua dinâmica de crescimento pelas exportações assente em produtos de elevada tecnologia, os representantes dos trabalhadores exigiram um aumento salarial de 8,5% que foi conseguido e repartido por dois anos. Esse acordo levou a uma espiral ascendente noutras indústrias e, em seguida, estas e o sector público forçaram a uma maior compensação salarial. Como resultado dos acordos a que se chegou com estes sectores os custos do trabalho têm crescido acentuadamente desde há uma década. Estes custos divergiram dos níveis praticados na Suécia e na Alemanha em 2007, da mesma forma que as infelicidades de Nokia e da indústria de papel se intensificaram e as exportações caíram.
Desde 2008, a Finlândia tem estado a perder competitividade contra todos os países da UE, da mesma forma que os seus custos salariais terão disparado. Enquanto caíram os custos laborais unitários da Irlanda e a Espanha, os da Finlândia aumentaram em cerca de 20 por cento. A produtividade [creio que o autor quererá dizer competitividade e não produtividade] sofreu correspondentemente. A Conference Board calcula que de 2007 a 2012 os custos laborais unitários da Finlândia na indústria transformadora aumentaram de 6,3 por cento ao ano, mais rápido pois do que em qualquer um dos países analisados, com excepção da Austrália e Japão. Ao mesmo tempo, a produtividade da Finlândia caiu 3,9 por cento num ano, muito mais do que em qualquer outro país.. Richard Milne (in an FT Op-Ed) mostra um gráfico para ilustrar esta situação.
O gráfico é levemente enganador, ilustrando mais uma vez como não há nenhuma tal coisa a que se chama um “facto” económico, já que há aqui uma redefinição do índice de base de 2007, quando o desemprego espanhol começou a subir muito mais rapidamente do que caia o PIB, provocando um ajustamento descendente substancial nos custos unitários do trabalho. Os custos unitários espanhóis e finlandeses separaram-se pois quanto à respectiva evolução, mas não tanto quanto o gráfico sugere, pois desde em 2007 os custos unitários da Espanha tinham crescido a níveis absurdamente altos.
Só para ilustrar como numa disciplina pré-científica, ideologicamente dividida entre o o que são economicamente factos (o que não é consensual) e o que são apenas interpretações, eu reformulei os dados de custos unitários do trabalho em 2000 no quadro abaixo. Este ainda mostra quão séria a situação finlandesa, mas coloca o desenvolvimento espanhol a uma luz bem diferente. A Finlândia não era incompetitiva até 2011.
Na verdade a Finlândia tem transitado da situação de ser um país com um significativo excedente na balança comercial para a situação de ser agora um país com um défice estrutural.
Até mesmo o saldo da balança corrente já passou a negativo.

E o índice Net International Investment Position também está a ficar negativo. Este é um fenómeno especialmente preocupante sobretudo quanto se trata de um país com uma população de idosos dependentes em rápido crescimento, com o rendimento de investimentos externos a poder ajudar a manter os padrões de vida e de bem-estar. Os pagamentos de rendimentos líquidos são negativos e só irão deixar menos dinheiro disponível para as políticas sociais.
(continua)
________
Não percebo porque deixei de receber a vossa publicação… podem esclarecer esse facto? Obrigada fonseca.margarida@gmail.com
??? Não recebo há muito, ACABOU?