EDITORIAL – 40 ANOS DEPOIS O POVO JÁ NÃO USA O VOTO COMO UMA ARMA

Foi às 5 horas da manhã de dia 26 de 1975, há 40 anos portanto, que se logo editorialsouberam os resultados das primeiras eleições livres neste país. Os cidadãos que já exerciam há um ano o seu direito de se manifestarem, de se organizarem, de fazer política das mais diversas formas, assumiam nesse dia o direito de dizer quem queriam que os governasse. O entusiasmo de, finalmente, o poder fazer foi grande, como atestam as fotos e filmes em que se vêm as longas filas para chegar à boca das urnas. E como atestam a quantidade de pessoas que foram votar: 91,66% dos inscritos. Os votos nulos e brancos somaram 6,9%. Dizia-se, então, “o voto é uma arma do povo”.

O Partido Socialista foi o grande vencedor, com 37,9% dos votos e 116 deputados. O acto eleitoral foi coberto por mais de um milhar de jornalistas estrangeiros, com o centro das operações na Fundação Gulbenkian.

Cumpria-se assim, um dos desígnios do Movimento das Forças Armadas que, um ano antes acabara com a ditadura. Outro dizia respeito à abolição da censura e liberdade de imprensa, agora ameaçada pelo anteprojecto de lei para a regulamentação da cobertura das campanhas eleitorais, que está a ser preparado na assembleia da república entre o PS, o PSD e o CDS, de que aqui falámos ontem.

Fica por cumprir  a “ nova política social que, em todos os domínios, terá essencialmente como objectivos a defesa dos interesses da classe trabalhadora e o aumento progressivo, mas acelerado, da qualidade de vida dos portugueses”. Os direitos efectivos de todos nós – o  pão, a habitação, o trabalho, a saúde, a educação e a segurança social – estão ameaçados e são muitos os que o sentem na pele.

Comparando com o acontecido nas eleições de há 40 anos, o que dizer da enorme abstenção ultimamente verificada (em 2013, com 47,4%) ? Excluamos aqueles para quem não votar é uma decisão bem definida e defendida. Será que corresponde a uma satisfação com os resultados já obtidos? Ou a uma indiferença quanto às políticas que poderão ser seguidas pelos partidos maioritários? Ou a uma desistência quanto a poderem ter uma palavra a dizer?

Se “o voto é uma arma do povo”, então foi pelo cano abaixo. Que nos resta?Novas formas de expressão e mobilização?

 

 

 

 

 

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