O “CANTE” NAS ESCOLAS DE SERPA por clara castilho

“Cante nas Escolas”. Este é o nome do projeto implementado pela Câmara Municipal de Serpa em várias escolas dos agrupamentos n.º 1 e 2 de Serpa desde 2009. E os resultados não poderiam ser melhores. O projeto já chegou, na sua totalidade, a centenas de alunos do primeiro e segundo ciclos de escolas de oito localidades do concelho de Serpa.

Actualmente são 306 as crianças que estão a aprender a cantar à alentejana.
A salvaguarda do cante é um dos pilares deste projeto: “Porque é que as crianças se tornavam homens e os homens começavam a cantar? Porque as crianças acompanhavam os pais. Ouviam muito o cante nas reuniões de família, em situações de festas e de convívios. A partir do momento em que a sociedade muda, mudam também essas vivências. E por isso as crianças deixaram de sentir a necessidade de estar junto do cante”.

Para Maria Isabel Estevens, vereadora da Câmara, o “Cante nas Escolas” serve para dar a conhecer esta tradição aos mais novos: “Quando [o cante] é introduzido nas escolas não é como uma aula, mas sim como algo que se eleva e se dá a conhecer às crianças através da música, da sonoridade, das letras e que os faz desenvolver. Ao conhecer-se decide-se o que se quer, seja cantar ou simplesmente ouvir. E esse conhecimento interior é a melhor forma de preservar a memória, e ao longo dos tempos, aquilo que são as tradições que vão seguindo gerações.”


Ouvimos alguns alunos da Escola EB 2,3 Abade Correia da Serra, em Serpa, com o seu professor Pedro Mestre, no decorrer do Simpósio Educação e Saúde, no passado dia 8 de Maio. Pedro Mestre é ensaiador do projeto “Cante nas Escolas” desde o início, Pedro Mestre revela que “antigamente este tipo de arte passava-se de pais para filhos ou de avós para netos, e hoje são poucas as coisas que se aprendem com os avós. De certa forma é na escola que se aprende tudo, e o cante começou a ocupar aí um lugar que tantas outras tradições e costumes deveriam ocupar também.”. “Aquilo que pretendemos com este projeto não é tornar todos os alunos cantadores, mas sim sensibilizá-los para tudo aquilo que está ligado ao cante: o Alentejo.” Para o professor aquilo que é mais importante é o facto de que “estes alunos estão neste projeto de livre e espontânea vontade. Isto é não mais que o fruto que colhemos do primeiro projeto [Cante nas Escolas] ”. “Aqui o cante está à flor da pele. E isso nota-se até nestas crianças a quem já não lhes é desconhecido um rancho coral, um chapéu e nem nada daquilo que eles envergam neste uniforme que adotámos para este grupo. Estamos a lutar pelo futuro do cante.” Em tom de apelo o ensaiador afirma que “é importante que aqueles que cantam abordem estas crianças, porque para além da escola muito há a fazer para a salvaguarda do cante.”

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