“Sacavém, 24. 3. 73
Caríssimo Nicolau
Não consigo tratar-te por Francisco – muito menos por Garção, pois tendo havido já um na literatura e na poesia, aliás muito chato, parece-me que 2 serão de mais.
Acabado este preâmbulo tenho a dizer-te o seguinte: a ideia “exposição Carlos Martins e Lud” aí parece estar em marcha. No dia da inauguração poderia fazer-se o recital. Esta ideia já está a ser posta por mim em marcha. Falei à Júlia Chaves. Concordou com a estadia num fim-de-semana e os 500 paus que darão somente para a gasolina. Ela tem um carro “ultra bright”.
Terás de ajudar um pouco:
1º Manda “Balada de Portalegre” do Régio, se possível com nota biográfica.
2º Diz para quando é possível esta manifestação (nunca antes de um mês).
Agora outro assunto: pediram-me no “& etc” que te contactasse para o seguinte: pretendem expor colecções dos números do “& etc” em várias sociedades de recreio, juntamente com os boletins de inscrição para sócios. Como presidente ou influente do Clube local, podes escrever para o “& etc” propondo exactamente o que foi dito atrás.
Espero que o faças sem grande demora pois estão muito interessados nesta espécie de promoção.
Manda também (para mim) um poema teu que te pareça o melhor para o recital. Igualmente do nosso amigo daí, cujo nome me esquece sempre.
Espero notícias breves.
Um abração do Pedro”
NOTAS
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Esta carta vinha acompanhada dos poemas que a seguir se dão a lume.
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A exposição em projecto não se realizou, uma vez que o Governo Civil desaconselhou a presença do segundo autor, cujos desenhos eram tidos por muito “controversos e até provocatórios” (sic). Foi substituída por uma mostra de recurso, tendo sido expostos poemas-colagens anteriormente proibidos em Coimbra ainda que a mesma tivesse sido noticiada no jornal República.
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No decorrer da mostra foram lidos poemas de Régio, Carlos Garcia de Castro, ns e Pedro Oom (ausente, pois acabara por não se deslocar a Portalegre). Finda a função, ns e o vice-presidente da colectividade, o hoje falecido sindicalista Manuel Bagina Garcia, entre vigorosos protestos foram detidos pela polícia “para averiguações”, tendo sido postos em liberdade no dia seguinte com a indicação de que “na próxima iriam para Peniche”. Os dois primeiros poemas seriam, depois do 25 de Abril, dados a lume numa publicação portalegrense depois defuncionada pelos próceres políticos que a haviam tomado “revolucionariamente”, saneando ns de imediato.
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Exporem-se números da revista & etc foi impossibilitado por decisão do mesmo Governo Civil, de que era titular o dr. Mário Marchante, cidadão de bem – benquisto e por acaso do Benfica – e muito querido do regime salazarista.