EDITORIAL – O tempora! O mores!


logo editorialSegundo notícia divulgada pelo Daily Mail, citando o La Provence, os traficantes de droga que operam em Marselha, estão a oferecer cartões aos clientes, permitindo-lhes acumular pontos e aceder a descontos. O número de clientes está a aumentar e os traficantes estão satisfeitos, pois apesar da crise económica o negócio prosperou. Esta medida de marketing está a revoltar os marselheses.

Como nas promoções do Continente ou do Pingo Doce, através de um sistema de selos que o cliente vai coleccionando, quando junta dez dessas vinhetas, tem direito a um desconto de dez euros na aquisição de cannabis . Nos cartões, é possível não só coleccionar os selos que vão dar direito aos descontos, como saber o horário de atendimento e até mensagens de cortesia, do género: “Esperamos vê-lo no nosso bairro, obrigado pela sua fidelidade”, no melhor estilo da Worten – Worten sempre! O tráfico de droga e o crime organizado é um problema em algumas zonas da cidade francesa de Marselha e segundo uma reportagem, 300 polícias desencadearam uma operação no início desta semana que resultou na detenção de 20 traficantes.

Embora menos grave, lembramos as máquinas que em cidades alemãs permitem obter o serviço de prostitutas. Para não falar nos anúncios do Correio da Manhã. O que é normal? Onde é que se situa a fronteira entre normalidade e anormalidade? Não faltará muito para que a corrupção na classe política seja admitida no seio da normalidade. Como disse Aldous Huxley, “A normalidade é apenas uma questão de estatística”, ou seja quando uma anormalidade é aceite por um número elevado de pessoas, passa a ser normal.

A exclamação de Cícero, nas suas Catilinárias e Verrinas, condenando os costumes dissolutos do seu tempo, ou o  verso do soneto de Camões, Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, que, de certo modo, encerra a explicação, o porquê da mudança de costumes, são palavras que vão sendo repetidas ao longo dos séculos. Todo o mundo é composto de mudança, /Tomando sempre novas qualidades. […] Diferentes em tudo da esperança.  Sem dúvida,  Diferentes em tudo da esperança, embora o direito a que o futuro seja coincidente com a esperança se conquiste não esquecendo o passado e vigiando o presente. Por exemplo, condenar a corrupção e votar em partidos de onde vão emergindo os corruptos, é contribuir para que a corrupção, anormal, criminosa, passe a ser admitida como comportamento normal. Talvez não falte muito para que na televisão possamos ver concursos com os grandes talentos da vigarice, explicando como indrominaram os cidadãos, como acumularam fortunas. Através de chamadas telefónicas de valor acrescentado, nós, os contribuintes, desde que façamos prova de que temos os impostos em dia, poderemos então eleger semanalmente um herói, um Einstein da roubalheira.

 

 

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1 Comment

  1. A tendencia nas democracias da UE é para responsabilizar cada cidadão pelas suas proprias escolhas. Se que rir as prostitutas vai, não é uma entidade “suprema” que decide o que é permitido fazer. A droga, olhando para a insapacidade das autoridades em defender os cidadãos , já devia ter passado tambem para as opções de cada um e retirarem o negocio aos criminosos que hoje a lideram; e vão liderar sempre até que aliberalização lhes estrague o monopolio.
    Os leitores que continuam a votar nos palhaços que os têm levado as bancarrotas -já vão tres, tambem mereciam umas cadernetas de pontos com credito nos impostos futuros.

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