Tivemos há dias na reunião semanal do Serviço de Cardiologia do Hospital de Vila Nova de Gaia uma palestra muito útil sobre exercício físico.
Vários estudos credíveis mostram que o exercício considerado moderado diminui a mortalidade, aumentando a longevidade em 6-7 anos. O excesso de exercício funciona ao contrário. Não só se perdem esses benefícios, como aumenta a mortalidade e diminui a longevidade.
O problema reside na dificuldade em estabelecer o limite entre o exercício moderado e o excesso de exercício. Já não entramos em linha de conta com o exercício violento, como no desporto de competição. Pelo que hoje se sabe, que é muito mas está longe de ser tudo, e pela nossa experiência, o desporto violento não traz qualquer benefício físico, pelo contrário, dele podem decorrer muitos malefícios, mesmo não falando nas situações dramáticas que todos conhecemos.
O ser humano tem as características próprias da sua espécie, e cada pessoa, por sua vez, tem as suas características individuais, diferentes de pessoa para pessoa. Em minha opinião, o homem não foi feito para correr. Feitos para correr foram o leão, o leopardo e tantos outros. O homem também não foi feito para estar parado como o cágado. Daí que deva fazer exercício físico compatível com as suas capacidades e necessidades e nunca de forma irracional e massificada.
Todos os dias em todos os lugares, vemos montes de gente a correr, novos e velhos, como se fossem acudir a um incêndio. Esfalfados, suados, obcecados, eles lá seguem não se sabe bem à procura de quê. Penso que não é saúde o que vão encontrar no fim da corrida. Nada demonstra que irão colher benefícios, e a nossa experiência tem mostrado que em muitos casos vão ao encontro de malefícios. Como disse atrás, as pessoas não têm todas a mesma preparação e as mesmas capacidades, daí podendo resultar, para além de uma ausência de benefícios, consequências mais graves ou menos graves.
Onde estará então o limite para além do qual o exercício não será benéfico? Em sentido prático, deitando mão do que sabemos e de muitas dúvidas que a investigação nos deixa, e também de algum bom senso, eu atrevo-me a acreditar que o limite está onde começa a corrida e todo o esforço que se lhe assemelhe. Por isso, nunca aconselhei nenhum paciente meu, novo ou velho, ainda que uma avaliação e estudo correctos tivessem mostrado ausência de patologia, a correr ou a praticar qualquer desporto violento. Sempre disse que é bom mexer-se, andar, caminhar, fazer ginástica, piscina, andar de bicicleta, pequenos desportos de entretenimento e muitas outras coisas de que se goste, mas sem aquela ideia macaquinha de querer saber do que se é capaz ou de querer ultrapassar-se a si mesmo.