EDITORIAL – Atleta de alta competição muda do Benfica para o Sporting

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Imagine-se que na TV, nos jornais, nos meios de comunicação em geral, era dada a notícia de que um atleta de alta competição se tinha transferido do Benfica para o Sporting. Sem atingir o impacto que assumiria a transferência de um craque da equipa principal, a saída para o clube rival de um atleta como, por exemplo, o Nelson Évora, daria muito que falar. Pois, corria o ano de 1910, aconteceu…Porém, nesse ano as preocupações dominantes eram de outra natureza…

Alfredo Camecelha (1880-1956) nasceu em Lisboa de uma família de imigrantes galegos, gente oriunda da região de Ponte Vedra. Muitos argonautas, nomeadamente os três coordenadores, conheceram e foram amigos de um dos seus netos, Jaime Camecelha, cineclubista, activista político, já falecido.

O apelido Camecelha, que parece ser um aportuguesamento do galego (castelhanizado) Camasella, é  relativamente vulgar. Entre diversas referêrencias sem interesse a pessoas com esse apelido,na lista dos galegos mortos no campo de extermínio de Mauthausen, entre Agosto de 1940 e Maio de 1945, figura um Agustín Camasella Fernández, de Vigo (Ponte Vedra), executado em 1 de Novembro de 1941… 

Alfredo Camecelha (1880-1956) foi realmente o primeiro atleta a ganhar uma prova nacional para o Benfica. Num torneio realizado em 7 de Fevereiro de 1909, com a participação de dez clubes, lançou o peso (7,250 kg) a 9.30 m. Foi lançador de dardo e fez também parte da equipa de luta de tracção no mesmo torneio. Vêmo-lo numa foto cedida pela família lançando o dardo. Por que motivo terá mudado de emblema? O Sporting ofereceu-lhe mais uns milhões do que o Benfica? Não. Ao que parece, o campo de treinos do SCP ficava-lhe mais em caminho, no trajecto entre casa e o emprego.

Outros tempos, dir-se-á – com a mentalidade de hoje, a mudança de um treinador ou de um craque em 1 de Fevereiro de 1908 ou em 5 de Outubro de 1910, talvez tivesse salvo a vida ao rei e ao herdeiro da coroa e mantivesse a monarquia. Porque hoje vive-se com mais intensidade os episódios futebolísticos do que as tricas partidárias. Não porque valham muito mais ou tenham muito mais a ver com as nossas vidas – mas porque, apanhando-nos distraídos com as futebolices, de repente, aparece sentado em Belém um qualquer Aníbal e em São Bento um qualquer Coelho.

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