EDITORIAL – A lenda da manta e a segurança social

Diário de Bordo - IIDeparamos em diversas culturas com a lenda que conta como, no dealbar dos tempos, os filhos, quando os pais deixavam de poder  trabalhar, transformando-se num encargo sem retorno, os levavam ao topo de uma montanha e aí os abandonavam. Um dia, um aldeão fez com o pai essa viagem e, chegados ao cume, entregou uma manta ao pai para se poder proteger do frio. O velho pediu-lhe que esperasse um pouco, cortou a manta em dois pedaços e, entregando um deles ao filho, disse-lhe: «-Quando chegar a vez de o teu filho te trazer, já terás com que te abrigar».

Circulam na rede milhões de mensagens – histórias mal contadas, documentos apócrifos, à mistura com informações correctas e sobriamente narradas. Separar o trigo do joio nem sempre é possível – acontece que numa dessas mensagens, uma mentira ou mesmo uma imprecisão, descredibilizam cem verdades. Como temos dito, a nossa política é a de publicar apenas o que é assinado por pessoa identificada e com a aquiescência do autor ou, melhor, com a vontade expressa do autor.

Há uma dessas mensagens que circula já há anos, mas que mantém toda a sua carga de denuncia da política social e económica que os sucessivos governos criaram e que o bando de miseráveis que assaltou o poder, está a tentar solucionar com uma insensibilidade terrorista e que  apresenta como trabalho positivo. Refere-se à insustentabilidade do sistema, historia a passagem da Previdência para a Segurança Social, E explica que essa insustentabilidade radica principalmente no roubo e má gestão feita aos fundos criados com os descontos obrigatórios dos trabalhadores e das entidades patronais. Somando-se a essa apropriação ilícita, uma política demagógica levou a que se generalizasse o direito a pensões de reforma que, em muitos casos, eram incompatíveis com o que havia sido descontado. Ou seja, quem sofreu descontos percentualmente  elevados  e que garantiam pensões de um certo montante, corre o risco de se ver privado daquilo a que tem direito pelos roubos acumulados e pela demagogia eleitoralista.

Aqui chegados, ouve-se com frequência, sobretudo a jovens trabalhadores, o desabafo segundo o qual «os que produzem não devem sustentar os reformados e pensionistas». Também para esses heróis da produção chegará a altura em que deixarão de ser produtivos. É melhor irem escovando a meia manta com que se irão proteger da fome e da doença quando deixarem de poder trabalhar.

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