A GALIZA COMO TAREFA – escritores da Galiza? – Ernesto V. Souza

E não seria interessante fazer um estudo sobre a quantidade de emigrantes que há entre os escritores galegos ao longo da história, durante os séculos XIX e XX e no momento presente?

Jornalistas, profissionais da imprensa, professores, escritores de conto e de romance, quantos terão desenvolvido a sua carreira em Madrid e nas grandes capitais americanas? quantos  – menos sem dúvida mas importantes – nos países anglo-saxões e da francofonia?

E quantos, seria mais interessante, nos países de fala portuguesa?

O feito é que os escritores – não apenas os galegos – emigram, desde sempre das regiões da periferia cultural aos centros, na procura dos mecenas, das instituições, dos circuitos de edição e das capitais onde a circulação da letra imprensa e o público de massas permite uma profissionalização nunca doada. E a emigração dos intelectuais tem a sua cousa, porque a emigração supõe sempre uma adaptação dos estilos, dos temas, das exigências, dos costumes, dos hábitos linguísticos, a aquelas práticas que defendem as editoras, os média, ou demanda o público.

Um escritor profissional necessita editoras e mercado. E na Galiza não há tal. Escrever é simplesmente um facto voluntário e militante. Deixar de escrever, escrever nas margens, ou emigrar (normalmente a Madrid e em castelhano) são as opções.  Permanecer na Galiza é continuar num amadorismo complacente onde a escrita não é uma profissão: é um mérito social, político ou académico.

Escrever, na Galiza, em uma ou outra norma resulta por isso irrelevante. Os hábitos, os referentes, os golpes estilísticos, os modelos, os plágios são os do castelhano, sem importar a ortografia em que se exprima. Mudar isto, desde dentro e neste contexto para um público que se movimenta por igual dentro destes hábitos e referências de consumo é difícil.

No modelo galego atual em realidade é irrelevante tudo, menos a poesia, porque não havendo competência nem mercado, não pode haver escritores profissionais ou mesmo havendo escritores com talento, é difícil que haja uma escrita de qualidade. Formados por gerações neste amadorismo e na dependência modélica do castelhano resulta muito difícil nem criar uma língua lusófona, nem entrar sem mais – por desconhecimento e por problemas de imaginários quebrados – num dos mercados em língua portuguesa possíveis.

Mas tratar de emigrar e competir num país de língua portuguesa é hoje cada vez mais uma possibilidade. Emigrar a âmbitos literários e mercados reais e particulares (Brasil, Portugal, talvez Angola, Moçambique), nos que o emigrante deverá competir, reaprender e definir não apenas a sua escrita e língua, quanto adaptar os seus hábitos e tópicos às exigências do mercado.

E, nesse sentido a projeção individual e os caminhos pessoais que enxergamos pioneiros vão ser a maior mudança nas letras da Galiza. Provavelmente também será importante a mudança no modelo de língua que uns quantos cheguem a desenvolver neste contexto e que talvez um dia devolvam com sucesso à origem.

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