A notícia da privatização por ajuste directo dos transportes colectivos do Porto é chocante mas não inesperada. Há bastante tempo que se previa que os nossos governantes, em vez de travarem a espiral de entrega a entidades privadas com a proximidade das eleições, iriam pelo contrário acelerar a sua execução. João Miguel Tavares, no seu escrito Uma Decisão Vergonhosa, no Público, a que podem aceder pelo link abaixo, resume a situação, e mostra bem como ela é chocante. Não hesita em usar o termo moscambilha, um termo beirão para trapaça, batota (vejam o Grande Dicionário, do José Pedro Machado).
O chamado processo das privatizações tem de ser posto a nu. Trata-se de um dos maiores escândalos dos tempos modernos, que ombreia com o tráfico de armas, com a especulação financeira, e outros tráficos que arruínam a vida das nações e dos povos. Pior, só a escravatura de seres humanos (muitas vezes disfarçada de emigração, e enroupada em boas intenções) ou o tráfico de órgãos. Mas acreditamos que muita gente concorda com as privatizações, de boa fé. É que é muito difícil fazer passar a mensagem de que as teias ocultas de interesses torpedeiam todas as boas intenções. Como explicar às pessoas os comportamentos que levam a este estado de coisas? Não é fácil. Desde as normas de segurança ambiental, passando pelas condições de trabalho e pela propriedade monopolística das sementes para a agricultura, até à necessidade de conservar no sector público os serviços essenciais de saúde, educação, transportes e acessibilidades, a barragem ideológica desencadeada para justificar a destruição das últimas décadas tem silenciado muita gente. Até porque tem subjugado o sector essencial para a formação e fundamentação da opinião do cidadão comum, precisamente a comunicação social. É por isso que o artigo de João Miguel Tavares é importante, embora não concordemos com muitas das suas opiniões.
Um exemplo a outro nível será o da utilização de armas químicas pelo Exército Islâmico, ou ISIS (Islamic State of Iraq and Syria). Num artigo de Joshua Keating publicado no Slate (ver segundo link) referem-se eventuais possibilidades de essas armas serem provenientes dos arsenais de alguns vilões ainda ao serviço como Assad (nesta hipótese estaria portanto a fornecer armas a alguns dos seus piores inimigos ) ou já defuntos como Saddam Hussein ou Khadafi. Trata-se de um problema gravíssimo, tal como o é a aparição e actuação do ISIS, histórias que deveria ser devidamente contadas, sem se ficar por hipóteses que talvez sejam convenientes para alguns sectores, mas cuja solidez e veracidade dependem de se apurar o que efectivamente se passa. É a moscambilha ao nível internacional.
http://www.publico.pt/economia/noticia/uma-decisao-vergonhosa-1706046?frm=pop