Neste poema de Follas Novas concentra-se o drama de uma terra que os seus filhos se vêm obrigados a abandonar. Não é por acaso que José Niza, numa época em que a miséria e a guerra colonial levavam centenas de milhares de portugueses para uma dolorosa diáspora, recupera para a sua balada, superiormente interpretada por Adriano Correia de Oliveira, estas palavras que, escritas quase um século antes, assumem uma actualidade impressionante para o Portugal da ditadura. Os emigrantes galegos, espalhados pelo mundo, mas concentrados sobretudo na América do Sul (Argentina, Cuba, Uruguai…), quotizaram-se para pagar a construção do monumento erigido, no ano de 1917, em Santiago de Compostela. Uma dívida de gratidão paga à mulher que ergueu a sua voz em defesa dos deserdados da fortuna que, para sobreviver, tiveram de abandonar terras e famílias – Érguete, miña amiga!
Rosalía viveria os últimos anos da sua vida em Iria Flavia, Padrón, onde a família alugou a «Casa de la Matanza», hoje transformada em casa-museu. A doença cancerosa no útero minava-lhe implacavelmente o corpo. O seu médico, o Dr. Roque Membiela, tentou prolongar-lhe a vida, mas era uma guerra perdida (nas dedicatórias dos seus livros que ofereceu ao clínico e ao amigo, Rosalía escrevia sempre – «da sua eterna doente»).
Morreu em 15 de Junho de 1885, com 48 anos. Pediu aos filhos que queimassem as suas obras. Uma parte delas foi destruída. Dias antes de morrer, fora a Carril com o propósito de, pela última vez, ver o mar. Já moribunda, disse a sua filha Alejandra: «Abre essa janela, que quero ver o mar». E morreu serenamente.
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Esta evocação de Rosalía de Castro, por Carlos Loures, já tinha sido publicada no Estrolabio em 17 de Maio de 2010. Vejam em:
http://estrolabio.blogs.sapo.pt/765533.html