CONTOS & CRÓNICAS – EM CENA: 12 HOMENS EM FÚRIA – por António Gomes Marques

 

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O Intervalo – Grupo de Teatro tem em cena a famosa peça em 1 acto de Reginald Rose, 12 Homens em Fúria («Twelve Angry Men», no original), com tradução de Maria Antónia Rama, numa adaptação e encenação do resistente Armando Caldas, Sextas e Sábados às 21h30 e Domingos às 16h00, espectáculo este a que só nos foi possível assistir no passado dia 6, ou seja, desta vez não estivemos na estreia.

O texto mostra-nos doze jurados fechados numa sala, os quais, depois do julgamento de um jovem porto-riquenho acusado do crime de assassinato do próprio pai, têm de decidir se o réu é culpado ou inocente. Quando se efectua a primeira votação para decisão, há onze jurados que votam sem hesitar pela culpabilidade e um, arquitecto de profissão e jurado n.º 8, que mostra ter dúvidas e, portanto, não pode, em consciência, considerar o jovem culpado.

Com o decorrer da acção, verifica-se que os motivos que levaram os onze jurados a decidir pela culpabilidade são os mais variados, desde alguém que se julga consciente da culpa do réu até aos motivos mais fúteis, como a pressa em despachar o assunto para não perder um jogo de futebol, e outros com diferentes interpretações dos factos apresentados no julgamento, encontrando-se mesmo alguém, o mais insistente na culpa do jovem, que mostrará, no final, razões muito pessoais, não se preocupando em analisar as dúvidas apresentadas por um dos jurados. Os diferentes interesses vão-se confrontando, umas dúvidas levantam outras e o primeiro a ter dúvidas vai conseguindo atrair outros jurados a votarem pela não culpabilidade, o que gera mais conflitos entre todos e, como não poderia deixar de ser, das contradições nasce a luz criadora de dúvidas, abrindo o caminho a uma verdade possível, não podendo esquecer-se que um réu deverá ser considerado inocente até que se prove o contrário e, facto mais relevante, estava em jogo a vida de uma pessoa, que não poderá ser condenada à pena de morte se houver a mais pequena dúvida quanto à sua culpabilidade. A peça de Reginald Rose trata, portanto, de um tema que não perde actualidade, razão mais do que suficiente para que o Intervalo – Grupo de Teatro a incluísse no seu repertório, texto que teve grande êxito na sua primeira apresentação, feita para a televisão, começando portanto como um texto de teleteatro, em 1954, êxito esse que levou o próprio autor a fazer várias adaptações para o palco, a primeira estreada em 1955 com o mesmo título, a que se seguiram outras -«12 Angry Jurors», «12 Angry Men and Women» e «12 Angry Women»- modificando os elencos de acordo com os próprios títulos das adaptações.

A atestar essa actualidade, podemos referir as várias encenações da peça, na Broadway em 2004, numa turné de um teatro nacional americano em 2007 e em Londres em 2013. Teve também algumas adaptações ao cinema nos EUA, na Rússia, na Alemanha e na China, assim como nova adaptação para televisão e mesmo uma para a rádio.

Das adaptações ao cinema, lembro a realizada por Sidney Lumet, com o sempre excelente Henry Fonda, que teve grande êxito em Portugal, merecendo mesmo uma crítica de Rogério Paulo, publicada na Seara Nova em 1959, que o programa do espectáculo do Intervalo – Grupo de Teatro recorda num anexo, de que transcrevo:

«Eu, por fim, prefiro a obra de Reginald Rose em teatro. Este é um dos casos em que o cinema não ganhou muito em procurar assunto na dramaturgia teatral. Pelo seu carácter pouco espectacular e muito mais íntimo é um tema que ganha altura com uma comunicação directa com o público. Aqueles doze homens foram ‘concebidos’ para estarem em frente do espectador de corpo inteiro, como afinal nós, de corpo inteiro estamos em frente uns dos outros. O protagonista não é o Jurado 8, 3, 10 ou 4 mas sim os «Doze», e são os «Doze» que têm de estar sempre em frente dos nossos olhos. Estas limitações, que prejudicaram a definição de algumas personagens, (como a do «Refugiado», na peça claramente marcado como um defensor da Democracia pura) obrigaram a um ritmo mais lento e a uma interpretação mais calma, um tanto em desacordo com o choque por vezes violentíssimo da peça de Rose.»

Precisamente na temporada de 1959 – 1960, o Teatro Nacional Popular, numa encenação do seu Director, Francisco Ribeiro (Ribeirinho), estreou a peça de Reginald Rose, no Teatro da Trindade, numa tradução de Luís Galhardo (Filho), com o título de «12 Homens Fechados», com um elenco de luxo, onde, curiosamente, o Armando Caldas interpretava o Jurado 2, como abaixo se reproduz.

No espectáculo a que agora assistimos, o elenco cria o clima de conflito que o texto pede, sendo constituído por profissionais e não profissionais, com mais ou menos experiência, mas todos com a entrega dos amadores de teatro, ou seja, dos que fazem teatro por amor.

Portela /de Sacavém), 2016-05-09

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