Selecção e tradução de Júlio Marques Mota
De um escândalo a outro – do escândalo Baupin ao da lei El Khomri
6. O que esconde o caso Baupin: 49-3, desemprego, angústia dos assalariados
Os políticos e os analistas gostam das futilidades
Amaury Grandgil
A cortina de fumo mediático criada pelas supostas loucuras de Denis Baupin eclipsa a passagem em força do governo sobre a lei do Trabalho. Ora, o voto deste texto por recurso ao artigo 49-3 é não somente uma recusa de democracia mas também uma infracção aos direitos dos assalariados.
A ministra do Trabalho Myriam El Khomri com Manuel Valls. Sipa. Numero de reportagem : 00749860_000009.
Em França, temos o dom de nos interessarmos vivamente por coisas tão importantes como as loucuras sexuais dos nossos oligarcas.
A mão ao cesto?
Um grande personagem do Estado, Denis Baupin, o Vice-Presidente da Assembleia nacional, pôs uma mão no rabo de algumas das suas colaboradoras? A menos que seja “uma falsidade ” completa? Ou apenas uma palmadinha marota? Ter-lhes-á proposto uma “escapadela”? “Bom-dia Menina, – até à próxima, minha senhora. Ou ter-se-á chegado a uma “total” em troca de compensações substanciais? Aí está o que se considera fundamental e que merece dezenas de textos, reacções e muitas e grandes reflexões políticas! Assim como na mesa do café da esquina, há os que se inflamam na defesa das suas “vítimas” supostas que desde há anos mantiveram a sua boca fechadinha por temerem pela sua carreira, e há os outros, os que o defendem com igual virulência:
«Bem, não, eu digo, isso não se faz” ou “bem, mas então, senão não se pode dizer mais nada”
O governo contra a democracia
Nesta mesma altura desenrolam-se acontecimentos certamente insignificantes relativamente ao ponto de vista dos nossos editorialistas e comentadores ajuramentados. O governo acaba de fazer passar em força, graças ao artigo 49-3, a lei Trabalho com o nome de Myriam El Khomri que é apenas a sua executante e não a sua inspiradora. É uma outra negação da democracia porque não houve debate democrático sobre este texto, apenas o governo modificou alguns poucos artigos sob a pressão das manifestações de estudantes. Estamos mesmo assim em pré-campanha das próximas eleições presidenciais e é necessário efectivamente agradar aos “ djeunes”.
As elites contra o povo
Houve até muitas intervenções “notáveis” como, por exemplo, de Alain Duhamel esta manhã na RTL, a afirmar sem piscar os olhos que esta lei não ia fazer crescer a popularidade do governo. Fica-se espantado com tanta acuidade intelectual. Não teve naturalmente nem uma palavra para evocar as consequências desastrosas e bem concretas desta lei sobre os Franceses.
É necessário dizer que como a maior parte dos oligarcas e dos seus servidores como a ministra do Trabalho e muitos dos seus colegas, Alain Duhamel não sabe o que é o percurso de combatente de um assalariado hoje, um daqueles que não dispõem nem de favoritismos nem de redes e que não têm grande apetência por obséquios. O privado não goza ainda do privilégio da precarização se possível máxima para agradar aos accionistas, no público podem‑se encontrar contratados que acumulam quarenta e dois CDD em quinze anos sem que os sindicatos, excepto excepções notáveis, encontrem alguma coisa para dizer. É de resto lógico que num sistema onde a avidez, a ganância pelo lucro, está acima de toda e qualquer outra consideração, os especialistas “do entre-si ” não tenham nada a dizer enquanto conservarem as suas vantagens. Depois deles que venha o Dilúvio! É muito lamentável que a contestação desta lei seja abandonada aos engraçados de Nuit débout que são, apesar das suas aspirações às vezes simpáticas, perfeitos representantes da esquerda ideológica mais dogmática e desligada das realidades de terreno. Como é que se pode com efeito compreender o dia-a-dia de um trabalhador precário quando se vive em “duas divisões” cujo aluguer é pago por papá-mamã? Como é que se pode sentir o que é a precariedade quando nunca se teve de sofrer nenhum problema de sobre – endividamento? Quando os fins de meses são tomados a cargo pelos pais … Pouco importa tudo isto, a urgência é falar de rabos, de se darem todas as liberdades, de verdadeiros pequenos “apaches”, ou então der se armarem em defensores obstinados do respeito pelas mulheres. As consequências da lei El Khomri são apenas angústias das “gentes brutas da Bretanha”, os ploucs”, e “de franceses antiquados”…
http://www.causeur.fr/baupin-loi-travail-khomri-38159.html
11 de Maio de 2016