FESTIVAL DO SILÊNCIO, EM LISBOA, DE 20 DE JUNHO A 3 DE JULHO, HOMENAGEIA ANA HATHERLEY

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Tendo como premissa o diálogo entre diferentes expressões e saberes artísticos, o Festival Silêncio tem como eixo temático as possibilidades da palavra, enquanto unidade criativa e veículo do conhecimento e da criação artística. É um evento participativo, é uma festa para todos, é um convite aberto à participação, transdisciplinaridade, inovação, reflexão e criação. Este ano apresenta um ciclo de homenagem à artista portuense Ana Hatherly e um ciclo que se debruçará sobre os múltiplos significados da palavra Fronteiras, contará ainda com uma Feira de Edição Independente (Pangeia-Silêncio), uma Residência Artística que juntará Marta Bernardes, Miguel Bonneville, Daniel Jonas e Rui Silveira e um espectáculo de encomenda com a comunidade, a n d a r [cais do sodré], coordenado pela bailarina e coreógrafa Aldara Bizarro.

O Festival volta a estar na rua, nas fachadas, nas montras, nas galerias, nos cafés, nos clubes, no teatro, na praça, no jardim, para revelar a palavra através da música, cinema, literatura, exposições, poesia, teatro, performances, debates, conferências. Uma festa onde todos temos uma palavra a dizer.

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Ciclo Ana Hatherly : Anagrama da Escrita

Este ciclo de programação pretende celebrar e dar a conhecer a obra de Ana Hatherly nas suas várias vertentes. Fá-lo a partir de uma noção multiforme de escrita, que interroga a nossa relação com os signos. Entendendo a criação como acto lúdico de descoberta e de experimentação, a sua obra interpela-nos através da inscrição de inúmeros gestos, actos, signos e formas da escrita. A programação deste ciclo pretende ser uma justa testemunha dessa interpelação.

O curador Manuel Portela escreve:

A mão inteligente
De toda a obra de Ana Hatherly – poesia, ficção, ensaio, tradução, performance, cinema e artes plásticas – se poderia dizer que manifesta o movimento inteligente da mão. O desejo profundo do artista é entregar-se à inteligência da mão, a esse sistema cognitivo expandido, apenas parcialmente consciente, que o seu corpo explora na relação com a matéria. Com a matéria da experiência do mundo e com a matéria dos signos com que tenta dizer a experiência do mundo. Na mútua imbricação da mão e da escrita, a matéria do mundo e a matéria dos signos podem encontrar-se. Através das inscrições da mão, da mecânica fina dos seus movimentos musculares, o sujeito torna-se capaz de enfrentar a linguagem. De inventar-se através do gesto impensado da mão. No traço quase originário – quase fonte da linguagem e quase fonte da poesia – emerge o desenho da escrita. É nessa forja, onde a forma surge a partir do traço da mão, que a sua obra poética e pictórica se situa. Uma e outra parecem nunca abandonar o momento inicial da criação em que o branco e o negro se constituem mutuamente. Ao inscrever-se gestual e gestalticamente na superfície do papel, a mão interroga o enigma da escrita. Da escrita que, escrevendo-se, me escreve. A inteligência autocaligráfica da mão dá-nos testemunho da transição entre legível e ilegível, entre visível e invisível. Vemos a palavra tomar forma. Ouvimo-la. Vemo-nos a ler. “O que é a escrita?”, “O que é a palavra?”, “O que é a leitura?”, perguntam as inscrições iterativamente. A mão sabe sempre mais do que eu. E no excesso significante e silencioso do traço, emerge também o sujeito escondido na escrita. Escondido na pura potencialidade do traço como desejo de ser e de inventar ser.

Toda a programação em:

http://festivalsilencio.com/programacao/

 

 

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