A CRISE AUSTERITÁRIA E A QUADRATURA DO CÍRCULO – REFLEXÕES SOBRE A CRISE DA ECONOMIA, DO PENSAMENTO ECONÓMICO E DA DEMOCRACIA – TEXTOS DE REFERÊNCIA PARA ENTENDER A REALIDADE PRESENTE – A) SATYAJIT DAS – A CORRIDA AO COLAPSO: PARTE 4. QUANTITATIVE EASING PARA SEMPRE

Obrigado ao blog do tirloni.
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Selecção e tradução de Júlio Marques Mota

banimg690A Corrida ao Colapso. Parte 4: Quantitative Easing para sempre
Satyajit Das

Satyajit Das,  Part 4: QE Forever?

Economonitor, 4 de Abril de 2016  

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photo: 401(K) 2012

Enfrentando  os problemas da ineficácia e os efeitos colaterais tóxicos, as políticas atuais não podem ser revertidas facilmente, se é que o podem ser .

A retirada dos estímulos orçamentais  conduziria a um  acentuado abrandamento da actividade económica. A redução dos  serviços públicos e ou o aumento de impostos  acelera a contração no  rendimento disponível,  especialmente quando se está num  ambiente de estagnação dos  rendimentos  e de grande incerteza de emprego. Por sua vez, isto leva a uma contração acentuada no consumo. O crescimento mais lento, agravado por multiplicadores fiscais elevados, torna difícil de corrigir os défices  orçamentais  e controlar os níveis de dívida pública.

Isso restringe a capacidade de reverter uma política orçamental  expansionista, corroborando a observação sarcástica de Milton Friedman: “Nada é tão permanente como um programa de governo temporário”.

Como a dívida pública a crescer, as dificuldades de financiamento desencadeiam  uma crise financeira ou força-as a  dependerem  do Banco Central para financiamento pela  monetarização  da sua respectiva dívida.

Políticas ZIRP e QE também são difíceis de mudar. A normalização das taxas de juro, a redução das compras de títulos da   dívida pública e a redução da aquisição de títulos pelo banco central aumentam o risco de uma  ruptura financeira.

Os bancos centrais podem ter dificuldade em  aumentar as taxas de juros. A redução de compras de títulos pelo Banco central também corre o risco de taxas mais elevadas e reduzir  o financiamento disponível. As baixas taxas permitem um leque mais alargado de empresas e nações  a  manterem  ou  a aumentarem o pedido de empréstimos, ao invés de reduzir os níveis de dívida. Os níveis da dívida incentivados  por baixas taxas  tornam‑se  rapidamente insustentáveis com  taxas mais elevadas.

Os bancos centrais também não podem vender títulos da dívida pública e outros valores mobiliários da sua carteira de activos. O volume da sua carteira  significa que a sua venda conduziria a taxas mais elevadas, resultando em grandes perdas para o banco central, bem como para os  bancos e investidores. A redução de liquidez  exacerbaria esta situação  apertando fortemente a oferta de crédito e assim desestabilizando  um sistema financeiro frágil.

Se for sustentado, o acréscimo de 1% nas taxas aumentaria a manutenção dos custos do governo dos EUA no serviço da dívida em  aproximadamente US$ 170 mil milhões de dólares. Um aumento de 1% nas taxas de juros do G7 aumenta a despesa dos países do G7 em aproximadamente US$ 1,4 milhão  de milhões .

As altas taxas de juros também afetariam  as empresas  e os consumidores endividados. Nos EUA, um aumento de 1% nas taxas de juros, de acordo com um estudo  do Instituto McKinsey, aumentaria os  pagamentos domésticos da dívida de  US$ 822 mil milhões para US$ 876 mil milhões, um aumento de 7%. No Reino Unido, um aumento de 1% aumentaria os pagamentos internos de  96 mil milhões para  113 mil milhões, um aumento de 19%.

De acordo com o Banco de Pagamentos Internacionais, um aumento de 3% nas taxas de títulos da dívida pública   poderia resultar numa mudança no valor destes mesmo títulos  do seu valor que vai desde uma perda de  cerca de 8% do PIB para os EUA a cerca de 35% para o Japão.

Os preços dos ativos, impulsionados por taxas baixas, cairiam acentuadamente em resposta a redução potencial do apoio monetário. Com efeito, as políticas praticadas têm agravado os problemas existentes, tornando-os  cada vez mais intratáveis.

Com efeito, as políticas têm agravado os  problemas existentes, tornando os problemas cada vez mais intratáveis.

 Os bancos centrais convenceram-se que as políticas de taxas vizinhas de zero (as políticas ZIRP)  e a  política dita da flexibilização quantitativa,  a QE , são temporárias. Eles acreditam que vão ser capazes   de sair de uma política de taxas baixas quando   for apropriado. É uma reminiscência de definição do Lorenzana Ashly sobre a adição no seu  diário Sex, Drugs & Being an Escort: “Quando   pode dar alguma coisa em  qualquer momento do tempo, tal como na  próxima terça-feira”.

A questão central é saber  para que  período e em que extensão temporal as  atuais políticas  podem ser continuadas.

A contribuição  das poupanças do setor privado  interno  limita o montante da dívida pública, ignorando-se aqui os  empréstimos estrangeiros e a monetarização  da dívida pelo banco central. Se uma nação acumulou grandes investimentos estrangeiros, então o seu rendimento e o capital destes  podem financiar o governo durante algum  tempo.

Em última análise, a dependência desloca-se para a capacidade dos bancos centrais em  monetarizarem  a dívida e financiarem o  governo. Mas pode haver limites ao alcance da  monetarização da dívida.

A expansão do balanço exigida pelos programas QE expõem  os  bancos centrais ao  risco de perdas sobre o valor da sua carteira de títulos por incumprimento dos  seus devedores  ou (mais realista) sobre os seus  elevados resultados, (higher yields),  ironicamente se a economia se recupera e as taxas estão a subir. Em teoria, não há nenhum limite para a dimensão das perdas em que pode incorrer um banco central. Mas pode haver restrições de ordem  prática.

Uma restrição pode ser a perda potencial dos investimentos para um determinado aumento de taxas consistentes com a posição do  banco central em querer  manter a  sua capacidade operacional e credibilidade.

A Reserva Federal dos EUA tem US$ 54 mil milhões em capital suportando  aproximadamente US$ 4 milhões  de milhões. O BCE tem Euro 10 mil milhões em capital de apoio a activos em euros  de  3 milhões de milhões. O BoJ tem em  ienes cerca de  2,7 milhões de milhões em capitais de apoio a ativos em ienes no valor de  160 milhões de milhões. O banco da Inglaterra tem 3,3 mil milhões de libras esterlinas em capital de  apoio a ativos em libras  esterlinas  de  397  mil milhões.

Com efeito, uma pequena alteração nos valores destes ativos prejudicaria significativamente a base de capital destas instituições.

As receitas de senhoriagem constituem um outro limite possível para a dívida. A Senhoriagem é pois a diferença entre o valor do dinheiro e o custo de o produzir; a diferença entre juros recebidos provenientes de   títulos adquiridos em troca de dinheiro (notas e reservas) criado pelos bancos centrais e o custo de produção e distribuição de dinheiro. Um banco central é considerado solvente, enquanto  o valor esperado atualizado dos rendimentos de senhoriagem for maior do que os seus outros compromissos a longo prazo.

Uma restrição adicional é o risco de níveis de inflação excessivos.  Num  gráfico  que relacione  estabilidade  financeira e a estabilidade dos preços, a  monetarização da dívida pode ser restringida por pressões sobre os  preços superiores aos níveis que sejam  politica, económica  e  socialmente aceitáveis.

A restrição final continua a ser a preservação do status da moeda como um meio de troca ou aceite como reserva de valor. Os bancos centrais não arriscariam que a  sua moeda se torne  inaceitável para as  transacções comerciais normais, como no Zimbabwe e noutros casos semelhantes.

Enquanto os bancos centrais não atingirem os limites de sua capacidade de ação  e a inflação permanecer  baixa, eles conservam o seu campo de ação. Mas a política existente não aborda os problemas reais e pode não ser capaz de restaurar a saúde económica. Mas viciado em morfina monetária, os bancos centrais e os participantes no mercado acreditam que não há alternativa.

Satyajit Das, EconoMonitorQE Forever? Texto disponível em:

http://www.economonitor.com/blog/2016/04/part-4-qe-forever/

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