EDITORIAL: De bestas a bestiais…

Diário de Bordo - IINunca alinhámos na autoflagelação que os portugueses, de forma geral, elevaram à condição de desporto nacional, condensado no axioma – «isto, só em Portugal», dito e repetido a propósito de algo que corra mal – das greves da transportadora aérea a qualquer outra circunstância negativa. Sempre verberámos a eleição à mais alta magistratura de um sujeito de nível intelectual inferior e com um passado político duvidoso, como o Professor Cavaco Silva, mas não usámos a velha expressão – Berlusconi, Sarkozy, Trump, provam que povos supostamente mais evoluídos, elegem a bicharada avulsa que o marketing lhes impõe.

Para não falar da bacoquice monárquica em que os finos britânicos, os superiores escandinavos, os metódicos flamengos, os nossos amigos «espanhóis». encontram um encanto rançoso que nós – estúpidos e analfabetos – erradicámos há mais de um século. As monarquias são instituições semelhantes à EuroDisney ou ao Museu das figuras de cera – nós aguentámos um estúpido durante dez anos, mas continuámos a produzir bom vinho. A zurrapa a que por essa Europa fora chamam vinho, com as devidas e honrosas excepções, ajuda  a explicar o mau humor de prussianos e o ar distraído de londrinos. Para os republicanos portugueses de há um século, era evidente o ridículo de uma família de gente vulgar ser adorada como se não fossem fabricados como os súbditos. É uma coisa evidente, mas britânicos com ar pomposo levantaram-se de madrugada para ver o «bébé real». Apetece parafrasear Luís Felipe Scollari – «e nós é que somos os burros?»

A socióloga e humanista estrangeira que na passada semana nos elogiou, considerando-nos os europeus mais evoluídos,  apontou o nosso «calcanhar de aquiles» – um défice de auto-estima. Têm de ser os estrangeiros a chamar a atenção e elogiar aquilo que fazemos bem, E o que fazemos bem ultrapassa José Mourinho, Cristiano Ronaldo, o jovem Renato Sanches vendido por uma verba de dezenas de milhões de euros; ultrapassa os pastéis de nata, um êxito até na China, ultrapassa o secular vinho do Porto, a alentejana cortiça – artigos recentemente publicados  no Washington Post, no The Guardian, na Forbes, no Lonely  Planet, tecem-nos rasgados elogios – O Mashable, em  2016,  dizia: Portugal  será um país relativamente pequeno, mas é fácil passar uma semana a explorá-lo e ainda assim não será tempo suficiente para  tudo apreciar. O New York Times elogia o Porto e já o  The Guardian e a revista Esquire  haviam cantado a beleza da Invicta. Noutro artigo da C « Lisboa é a cidade mais “cool” da Europa»: Construída sobre sete colinas, Lisboa teve muito altos e baixos. Ultimamente, porém, não tem tido nada mais do que sol e brisa do mar. Agora, o resto do mundo está a descobrir uma das cidades mais antigas e bonitas da Europa à medida que ela monta uma onda de criatividade e optimismo”. Em reportagem da TVE, o mesmo elogio . La mas charmosa ciudad de Europa –  El Confidencial coloca Lisboa e Porto em lugar privilegiado no ranking das cidades mais baratas para passar uma noite fora do comum. Em 2016. mais nove estrelas Michelin vieram para Portugal, que passou de 14 restaurantes e 17 estrelas em 2015 para 21 restaurantes e 26 estrelas. Os restaurantes Alma e Loco, em Lisboa, e o Antquum no Porto, receberam pela primeira vez uma estrela, enquanto o Belcanto manteve as duas estrelas ganhas no ano anterior.

Para a Forbes Portugal é um destino  irresistível, tal como aconteceu com Paris nos anos 1890 e com Barcelona nos anos 1990. A capital é “uma das mais vibrantes” e “atraentes” do continente, que soube aproveitar as renovações de que foi alvo. Lisboa parece ter mil e um motivos por que ser falada e um dos guias mais respeitados do mundo não quis ficar de fora desta tendência: a Lonely Planet diz que a capital portuguesa é pouco reconhecida e que devia ser comparada mais vezes com pesos pesados europeus, como Barcelona ou Roma. Do guia vêm também anotações felizes sobre a cultura e a gastronomia que a cidade oferece, com referências ao Museu Calouste Gulbenkian e ao Museu Colecção Berardo. Lisboa é considerada pela Lonely Planet uma das melhores cidades a visitar em 2017, enquanto o Porto é assinalado como destino de valor e os Açores região de eleição. A Invicta também é, para a Lonely Planet, uma cidade que ainda passa despercebida, realidade difícil de acreditar dada a “acessível e excelente comida e acomodação” portuense.  há museus onde se podem passar horas de deslumbramento, eléctrfcos que arrastam o charme de outros tempos por onde passam e caves de vinhos que oferecem provas pouco dispendiosas. Dos Açores  diz “natureza extraordinária” e “atracções superlativas”, com o arquipélago a ser considerado a próxima Islândia.

Falámos de êxitos na indústria turística (acabámos de ler um artigo com todos estes elementos), mas no campo da ciência e tecnologia também temos assunto para outro editorial – o tintol não falha.

A nossa opinião sincera? Não alinhámos na disforia; não alinhamos na euforia. Não somos melhores nem piores – somos seres humanos que reagem ao que os condiciona, como todos os outros.

Mas venham até cá e serão bem recebidos, pois o culto do viajante está bem aceso e basta não ter cá nascido para se ter privilégios – veja-se o caso dos vistos golden…

 

2 Comments

  1. * Mais um artigo mordaz sobre a “pseudo euforia”reinante entre o viajante * bem aceso e basta não ter cá nascido para se ter privilégios – veja-se o caso dos vistos golden…o escândalo de um Ministro que parecia ser tão imune à corrupção e,afinal ,é mais um “patinho”com ar de bonzinho mas ,de mau carácter ….

    Maria

  2. Façam-se bem as contas e verificar-se-á que nada de bom foi feito no mundo que não fosse português. Até só temos uma Nacionalidade no todo nacional!!!CLV

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