EDITORIAL – DAS ELEIÇÕES HOLANDESAS  AO REFERENDO TURCO

No próximo dia 15 de Março, quarta-feira, vão realizar-se eleições legislativas na Holanda. Entretanto o governo holandês não consentiu que o ministro dos negócios estrangeiros turco entrasse no país para discursar junto dos seus compatriotas para os convencer a, no referendo a efectuar no próximo dia 16 de Abril, votar a favor do alargamento dos poderes constitucionais do presidente Erdogan. Para além disso, foi detida e expulsa do território holandês a ministra da família do governo turco, que atravessou a fronteira  de automóvel. Hoje, em Roterdão, realizaram-se manifestações de imigrantes turcos de diferentes tendências, pelo que se consegue compreender.

Noutros países europeus também foram levantadas dificuldades à presença de elementos ligados ao governo de Erdogan, ou ao AKP, o partido que detém o poder. A Dinamarca solicitou o adiamento de uma  visita oficial do primeiro-ministro turco, alegadamente por causa da crise com a Holanda. Em França, o governo de Hollande foi censurado por ter permitido que o ministro dos negócios estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, discursasse a convite de uma associação turca local.

Erdogan entretanto profere insultos aos governos ocidentais em resposta às restrições que impõem. Claro que é preciso ter em conta, primeiro, a tremenda repressão que tem sido feita na Turquia, após tentativa de golpe de estado de Julho do ano passado, sobre cujas origens se levantam muitas dúvidas. Em segundo lugar, as reformas constitucionais almejadas visam fundamentalmente possibilitar a Erdogan ver aumentado o número de mandatos em que lhe será permitido estar no poder, e interferir no poder judicial, entre outros aspectos, como o de acumular as funções de presidente e primeiro-ministro. Sendo verdade que Erdogan pretende ser um ditador sufragado regularmente (ditador já o é na prática), é discutível  que a melhor maneira de contrariar as suas intenções seja a de interditar a circulação dos seus ministros junto das comunidades turcas no estrangeiro, ou reduzir os contactos diplomáticos com o país. Isto poderá ser visto por muita gente como uma continuação das atitudes paternalistas tomadas no passado por líderes europeus (com destaque para Angela Merkel), que inclusive afastaram a hipótese de a Turquia vir a participar na União Europeia como membro de pleno direito. As comunidades turcas na Europa são numerosas, e muitos dos elementos que as integram, mesmo não sendo apoiantes de Erdogan, poderão sentir que por detrás destas atitudes, estarão concessões a posições xenófobas. Recorda-se que um dos principais candidatos às eleições holandesas da próxima quarta-feira é o Partido da Liberdade, de Geert Wilders, que tem como uma das suas bandeiras a islamofobia.

Propomos que cliquem nos links abaixo:

http://www.dn.pt/mundo/interior/presidente-turco-acusa-holanda-de-nazismo-e-fascismo-e-diz-que-pais-pagara-o-preco-5719927.html

http://www.lemonde.fr/les-decodeurs/article/2017/03/12/comprendre-la-crise-diplomatique-entre-la-turquie-l-allemagne-et-les-pays-bas_5093250_4355770.html

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