EDITORIAL – REGRESSEMOS AOS CAMPOS DE LUTA.- por Soares Novais

Há 43 anos uma nova geração de militares atirou o fascismo português para o caixote de lixo da História. Salgueiro Maia comandou as operações no Terreiro do Paço, o povo encheu as ruas e praças no apoio aos revoltosos e os jornais foram editados sem ter sido sujeitos ao crivo dos “coronéis” censores.

O “25 de Abril” não aconteceu por geração espontânea. Resultou da luta que milhares de mulheres e homens travaram contra uma ditadura que os acossou, prendeu, torturou e matou. Foi esse caldo de luta que gerou a acção interpretada pelos Capitães de Abril; e que fez da Revolução Portuguesa o mais belo e terno hino à Liberdade que o Mundo conheceu na segunda metade do século XX.

Em 25 de Abril de 1974  a morte ainda saiu à rua. Os “pides” dispararam sobre a multidão que tomou a “António Maria Cardoso” para exigir a libertação dos presos políticos. Mas a união entre o Movimento das Forças Armadas (MFA) e povo tornaram a marcha da História irreversível. Marcelo e Tomaz partiram para o exílio e os Donos Disto Tudo (DDT) puseram-se a salvo.

A Revolução fez o seu caminho. Entre a sabotagem económica e as bombas que mataram inocentes. O Processo Revolucionário em Curso (PREC) viu nascer uma constelação de experiências: das cooperativas de produção e distribuição às fábricas abandonadas pelos patrões ou pelas multinacionais e geridas por quem lá trabalhava. Alguns dos melhores arquitectos – Álvaro Siza Vieira foi um deles – projetaram os bairros das operações SAAL e das cooperativas de habitação e os moradores foram criando creches, farmácias e jardins onde nada havia.

A 25 de Novembro de 1975 o PREC foi violentamente socado. Houve choro e ranger de dentes. O mês de Novembro vingou-se da luta de um povo que cometeu o “crime” de querer “a vida cheia” depois de ter “a vida parada”. Tal  qual escreveu e cantou Sérgio Godinho. Sabe-se:  O “25 de Novembro” aconchegou “socialistas”, “social-democratas”, “cds”, membros do Conselho da Revolução, tropas do “24 de Abril”, bombistas, criminosos de vários calibes, e “ddt’s”, como Champalimaud e os Espírito Santo, que foram convidados a reconstruir os seus  impérios e a rechear as suas contas de milhares de “milhões”. Houve, também, quem clamasse pela ilegalização do Partido Comunista e quem amaldiçoasse Melo Antunes quando este apareceu na televisão a vincar que “o PCP era indispensável à construção de democracia”.

A partir do 25 de Novembro muita coisa mudou, pois. O país esqueceu muitos dos seus combatentes pela Liberdade e, não raras vezes, entregou o Poder a quem sempre esteve contra o 25 de Abril e os seus valores, como aconteceu recentemente com a dupla Passos/Portas. A Imprensa passou a estar ao serviço do sistema e muitos intelectuais deixaram-se seduzir pelo Pensamento Ùnico. Muitos foram aqueles que pararam e fizeram “um pacto implícito com o inimigo, tanto no campo político, como no campo estético e cultural e, por vezes, o inimigo somos nós próprios, a nossa consciência e os alibis de que nos servimos para justificar a modorra e o abandono dos campos de luta” – alertou Zeca Afonso, um dos melhores de nós.

Urge seguir o seu exemplo. Urge regressar aos campos de luta. Essa é a melhor forma de celebrar os 43 anos do “25 de Abril” que hoje se assinalam.

1 Comment

  1. Por muitos e indubitáveis méritos que teve Salgueiro Maia não pode dizer-se que comandou as operações no Terreiro Paço. Deve é dizer-se cumpriu com muito merecimento as ordens recebidas do seu superior Otelo Saraiva de Carvalho, o comandante-chefe do 25 de Abril..CLV

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