CARTA DE VENEZA – ANTIGOS LAZARETOS – por Vanessa Castagna

 

Aproxima-se a 74ª edição do Festival Internacional de Arte Cinematográfica de Veneza (30 de agosto – 9 de setembro) e já a cidade se prepara para receber estrelas, jornalistas e profissionais de todo o mundo. Das novidades mais interessantes deste ano, do ponto de vista da programação e da logística, vale a pena destacar a utilização, pela primeira vez, da ilha Lazzaretto Vecchio, que fica a pouca distância da ilha do Lido onde tradicionalmente decorre o evento.

A localização complementar destina-se a uma secção do concurso dedicada à realidade virtual e intitulada Venice Virtual Reality. De facto, de 30 de agosto a 5 de setembro em três espaços diferentes do VR Theater, instalado para o efeito na pequena ilha, será possível ver filmes de realidade virtual segundo três modalidades diferentes: sentados com visor, de pé ou com instalações 3D.

A ilha Lazzaretto Vecchio constitui o primeiro lazareto do mundo. A princípio foi ocupada por um convento de Ermitães devotos da Nossa Senhora de Nazaré, de onde veio o nome original da ilha (Nazaretum) e da homónima igreja edificada em 1249. No século XV, porém, no mesmo local foi instituído o hospital destinado, pela primeira vez na história, a doentes de peste. A designação de Lazzaretto Vecchio (“lazareto antigo”) surgiu mais tarde, sendo utilizada para não confundi-lo com o Lazzaretto Nuovo (“lazareto novo”), construído em 1468 para os mesmos fins e dedicado a São Lázaro, o padroeiro dos leprosos e, mais em geral, dos doentes contagiosos.

Ao longo dos séculos a ilha passou a ser local de desinfeção de mercadorias vindas de fora e, já no século XIX, armazém militar. Mas a história mais recente está marcada por um progressivo e lastimável abandono, que a Superintendência Arqueológica da Região, com a contribuição de outras entidades e a ajuda de voluntários, está a tentar inverter desde 2013, tanto que hoje já é possível visitar a ilha. Espera-se que, graças a um recente financiamento e a iniciativas como esta da inclusão no circuito da programação do Festival Internacional de Arte Cinematográfica, a ilha possa ser completamente recuperada e explorada como sede de atividades culturais e exposições sobre a própria história da cidade.

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