QUE EMPREGO ESTÁ A SER CRIADO EM PORTUGAL? UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA APESAR DA CRIAÇÃO DE EMPREGO SER IMPORTANTE – por EUGÉNIO ROSA

 

QUE EMPREGO ESTÁ A SER CRIADO EM PORTUGAL? Uma reflexão necessária

O aumento do emprego e a diminuição do desemprego em Portugal tem sido um tema que tem polarizado o debate público e, nomeadamente, o debate político pois tem sido apresentado como um êxito da política económica do governo.

Apesar da criação de emprego ser sempre muito importante e positiva, pois dá emprego a quem precisa dele para viver, e isso nunca deve ser esquecido, no entanto interessa analisar com objetividade que tipo de emprego está a ser criado em Portugal, se ele é sustentável, e se é um indicador seguro de que o país entrou no caminho de um crescimento económico elevado e sustentado. Para isso, vamos utilizar os dados do INE.

AS ATIVIDADES QUE TÊM CRIADO MAIS EMPREGO SÃO A AGRICULTURA, A CONSTRUÇÃO, O ALOJAMENTO E A RESTAURAÇÃO

O quadro 1, revela os setores onde foram criados mais emprego no último ano.

Quadro 1- Setores da atividade económica onde foram criados mais emprego

Entre o 2º Trim.2016 e o 2º Trim.2017, foram criados em Portugal 157,9 mil empregos, sendo 102,3 mil no 2º Trimestre de 2017. Se analisarmos a criação de emprego no 2º Trim.2017, conclui-se que dos 102,3 mil postos de trabalho criados, 30,9 mil foram na Agricultura, floresta, e pesca, ou seja, fundamentalmente atividades sazonais; 11,9 mil na Construção, e 44,5 mil no “alojamento, restauração e similares”, estas ultimas atividades dependentes essencialmente da flutuação do turismo tanto externo como interno. Somando, conclui-se que 87,3 mil empregos (85,3%) dos 102,3 mil empregos criados no 2º Trim.2017 foram na Agricultura, na Construção, Alojamento e Restauração, portanto atividades caracterizadas por baixos salários e algumas delas pela sazonalidade.

46% DO EMPREGO CRIADO NO 2º TRIMESTRE DE 2017 É PRECÁRIO

O quadro 2 (dados do INE), mostra o tipo de emprego criado no 2º Trimestre de 2017.

Quadro 2- Emprego por tipo de contrato – 2ºTrim.2016/2º Trim.2017

No 2º Trimestre de 2017, dos 102,3 mil empregos criados, 46,5 mil empregos (45,5% do total) foram contratos a prazo, embora o crescimento do emprego precário (contratos a termo) não tenha sido elevado se a comparação for feita com o 2º Trim. 2016 (passou de 712,3 mil para 727,9 mil). No entanto, não deixa de ser um facto que o crescimento económico verificado no 2º Trimestre de 2017 (+2,8% que no 2º Trim.2016) está a associado a um crescimento elevado do trabalho precário.

A MAIOR PARTE DOS EMPREGOS CRIADOS FORAM FUNDAMENTALMENTE OCUPADOS POR TRABALHADORES COM MAIS DE 45 ANOS DE IDADE E DE BAIXA ESCOLARIDADE 

O quadro 3 (dados do INE), revela outra caraterística do emprego criado no 2ºTrim.2017

Quadro 3 – Emprego criado por idades e nível de escolaridade

Portanto, 80,3 mil empregos (78,5%) dos 102,3 mil empregos criados no 2º Trim. 2017 foram ocupados por pessoas com mais de 45 anos de idade, sendo 26,4 mil (25,8%) com idade superior a 65 anos, e apenas 20,5 mil com idades entre 25 e 44 anos. Por níveis de escolaridade, 62,3% dos empregos foram ocupados por trabalhadores com escolaridade até ao 3º ciclo básico, 36,7% com o secundário e apenas 1,1% com o superior (=> do modelo).

60,3% DOS TRABALHADORES CONTA DE OUTREM RECEBEM MENOS DE 900€ EM 2017

O quadro 4, com dados do INE, mostra que o modelo de baixos salários persiste.

Quadro 4 – Repartição dos trabalhadores por escalão do salário líquido – 2015/2017

Entre o 4º Trim. 2015 (o governo PS entrou em funções em Nov. 2015 ) e o 2º Trim.2017, o número de trabalhadores a receber um salário liquido inferior a 900€, aumentou de 2,.23 milhões para 2,37 milhões (+135,6 mil). Em percentagem do total, registou-se uma subida de 59,9% para 60,3%. Embora neste período tenha diminuído o número de trabalhadores com salários líquidos inferiores a 310€ (de 143,3 mil para 128 mil) e com salários entre 310€ e 600€ (de 1.026 mil para 998,3 mil), e aumentado os com salários líquidos entre 600€ e menos de 900€ (de 1.066,7 mil para 1.245,3 mil), passando a ser o salário dominante o entre 600€ e menos de 900€. E isto apesar da população empregada com o ensino secundário e superior já representar, em 2017, 52,2%. Em Portugal, persiste claramente o modelo de baixos salários como mostram os dados do INE.                                     

 

 Eugénio Rosa – edr2@netcabo.pt , 18-8-2016

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