NOS CENTO E CINQUENTA ANOS DO NASCIMENTO DE LUIGI PIRANDELLO – por MANUEL SIMÕES

(1867 – 1936)

 

 

Luigi Pirandello nasceu em Agrigento (Sicília) em 1867, de família anti-bourbónica. O pai participou na “expedição dos Mil” com Garibaldi.  Em 1880 a família transfere-se para Palermo, onde Pirandello termina o liceu, lê os poetas italianos do séc. XIX, frequentando depois a Universidade de Palermo, centro do vasto movimento que desemboca nos “Fasci Italiani” (Movimento dos Trabalhadores, de inspiração libertária). E em 1887 troca a Sicília por Roma, onde se lhe oferece a oportunidade de frequentar os muitos teatros, a sua nova paixão: «Oh!, o teatro dramático! Hei-de conquistá-lo. Não consigo entrar num teatro sem sentir uma sensação estranha, uma excitação do sangue por todas as veias…». Depois de dois anos passados na Alemanha, em Bona (1889-1891), onde se licencia em glotologia, fixa-se definitivamente em Roma.

Os primeiros escritos são poéticos mas, ao mesmo tempo, escreve ensaios (O Humorismo, por exemplo, no qual estabelece uma polémica venenosa com Benedetto Croce) e torna-se verdadeiramente conhecido com o romance, publicado em folhetins, Il fu Mattia Pascoal (“O defunto Mattia Pascoal”), com muitos elementos autobiográficos. Em 1910, irritado porque não vê representada a peça em acto único O epilogo, afasta-se um tanto do mundo do teatro para se dedicar à narrativa, mas o ano de 1917 é assinalado por importantes representações teatrais: Così è (se vi pare) (“Assim é, se vos parece”), Il piacere dell’onestà (“O prazer da honestidade”) para logo no ano seguinte dar lugar a Ma non è una cosa seria (“Mas não é uma coisa séria”) e Il gioco delle parti (“O jogo das partes”). Até que em 1921 o teatro “Valle”, de Roma, leva à cena o que viria a ser o seu sucesso mais clamoroso: Sei personaggi in cerca d’autore (“Seis personagens à procura de autor”), recebido pelo público com gritos de “manicómio, manicómio!”, mas logo no ano seguinte (1922) representado em língua inglesa, em Londres e Nova York, e em língua francesa, em Paris (1923), depois nas maiores cidades da Europa, enquanto em 1924 se representava em Milão outro sucesso triunfal (Henrique IV) e Pirandello pedia a inscrição no partido fascista, à semelhança dos futuristas, que também manifestaram simpatia por esta ideologia.

A revolta das personagens contra os actores, o conflito entre espectadores e actores, ou o contraste entre actores e encenadores, eis sucessivamente os temas das obras teatrais pirandellianas e que fazem parte da “trilogia do teatro no teatro”: Sei personaggi… (“Seis personagens…”), Ciascuno a suo modo (“Cada um à sua maneira”) e Questa sera si recita a sogetto (“Esta noite improvisa-se”) e que sublinham a distância entre a obra escrita e a sua representação, e resumem a metáfora da cisão entre a arte e a vida, a diferença entre realidade e ficção.

A Pirandello foi atribuído o prémio Nobel para a Literatura em 1934, falecendo dois anos depois. E foi notória a recepção literária e teatral que obteve em Portugal se considerarmos que já em 1923 a companhia de Vera Vergani tinha representado em Lisboa a peça Sei personaggi in cerca d’autore (parece que com grande incompreensão do público e da crítica), e que, com a chegada de Gino Saviotti a Lisboa, em 1939, Pirandello foi um dos autores representados no pequeno “Teatro-Estúdio do Salitre”, que teve, como é sabido, um papel fundamental não só ao nível da difusão do grande teatro europeu mas sobretudo pela afirmação duma nova dramaturgia portuguesa, sem esquecer o envolvimento dos que seriam depois os mais famosos actores e encenadores teatrais em Portugal. E ainda sobre Pirandello e as suas relações com a cultura portuguesa, lembre-se a sua presença na primeira projecção do filme Douro, Faina Fluvial, de Manoel de Oliveira, realizada no Porto em 1931; e a sua inspiração em algum teatro de Costa Ferreira, de Luís-Francisco Rebelo e sobretudo de José Régio, o qual, no conhecido ensaio “Literatura livresca e literatura viva”( Presença, n.º 9, 1928), cita Pirandello a propósito das relações entre a obra de arte e as preocupações de ordem política, religiosa, patriótica, social e ética, dedicando-lhe esta significativa síntese: «Poeta de ideias que se fazem carne! Malabarista esfomeado de Absoluto, arrastando os homens à compreensão irónica de todos os seus relativismos!».

 

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