Há uma mulher de alvor azul, com um fio de azeite nos lábios finos e uma gota de água no canto dos olhos secos.
Os lábios foram carnudos e vermelhos de sangue, e os olhos eram verdes como o sol, quando o sol era verde.
Tem o rosto sumido na sombra descaída ao longo dos braços, como vela despregada de navegar.
Outrora, o mar encapelado e nu brilhava nos seus olhos, cobrindo de espuma branca as alamedas do desejo.
Havia uma cidade entre os lábios, envolta em lagos de montanha, com peixes verdes voando entre os pinheiros.
Não havia pombas brancas caídas no chão da cidade morta.
Nas ruínas da ilusão, um edifício muito alto erguia-se nas paredes do deserto e rompia o céu de nuvens negras.
No vão da noite que acolhe os sonhos, o botão-flor da primeira folha verde inverteu a vida entre o real e o imaginário nas dobras do tempo em universal dilema.
Há uma mulher de alvor azul com um fio de azeite nos lábios roxos e uma gota de água gelada no canto dos olhos, mas cedo se fez tarde a madrugada sem tempo para morrer na vida de um poema.
adão cruz