Esta semana, a publicação em meu blog do texto sobre Anna Maria Maiolino me levou ao artista plástico carioca Rubens Gerchman (Rio, 1942), com quem ela foi casada. Lembrei-me que esta é uma data redonda, pois completaram-se há poucos dias 10 anos de sua morte (São Paulo, 29 de janeiro de 2008). E 25 anos da grande instalação denominada “Clorofila”, que montou no foyer do Centro Cultural Banco do Brasil em 1993. Em sua homenagem, publico em meu blog o texto que escrevi na época sobre ele.
Influenciado pela arte concreta e neoconcreta, Rubens Gerchman foi um dos nomes mais importantes da nova figuração e da pop art no Brasil. O artista pintou cenas urbanas bucólicas e – contaminado pelo universo da cultura de massa – fez quadros retratando as multidões e o mundo impresso nas páginas dos meios de comunicação.
Em 1989, escrevia o crítico Wilson Coutinho: “Será praticamente impossível pensar plasticamente o Rio de Janeiro deste século sem que uma imagem criada por Gerchman não intervenha, não crie um ponto de referência, um elo imaginário com a cidade. Desse modo ela é mais do que um evento puro das artes visuais; ela é um acontecimento da socialidade urbana”.
Vejam em meu blog, link a seguir, o texto “A multidão em Gerchman”.
https://ronaldowerneck.blogspot.com.br/2018/02/a-multidao-em-gerchman.html
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A MULTIDÃO EM GERCHMAN
É como se fosse uma sinfonia, em quatro movimentos que se interpenetram: Povos da Floresta, Bichos da Floresta, Sonho Brasileiro e Clorofila. Obra-síntese, o imenso painel circular de 25×5 metros montado por Rubens Gerchman no Foyer do Centro Cultural é um caleidoscópio dos ícones por onde o homem comum transita atônito, entre o nada e o nada mais que isso. Sustentada por uma estrutura metálica semicircular, Clorofila é uma instalação pictórica que obriga o visitante a mergulhar na multidão retratada, envolvendo-o em gestos e cores, rostos e silhuetas de um Brasil imaginário e paradoxalmente amarrado no real.
A multidão é um tema cíclico no fabulário iconográfico de Rubens Gerchman. Rostos desconhecidos, imagens extraídas do noticiário dos jornais, ou dos porões da repressão, o povo explode na tela como quem acusa. Up-to-date com seu tempo, Gerchman revê o cotidiano com um olhar entre o kitsch & o crítico, misto de mau-gosto & concreto malarmado.
Esta obra anuncia & denuncia um mini-universo violentamente ampliado, gráfico & textual, à semelhança de assinaturas antes patenteadas pelo RG de Gerchman, como Lindoneia (que acabou musa do tropicalismo, via Caetano Veloso) ou Tarsilú, retomada da “Negra” de Tarsila com a Lou-Mona Lisa, Barba Azul às avessas, sacada das páginas policiais.
Clorofilaé um painel que instaura a inquietação, gatilho da verdadeira arte, que é detonado pela vida. Gerchman com a palavra: “O que a meu ver caracteriza o homem moderno é a multidão. Acredito que a minha principal responsabilidade é a de dizer: quero pessoalmente uma arte de conteúdo em que o homem seja sempre medida”.
Ronaldo Werneck
CCBB/Rio, 1993
16 a 28 de junho