Trickle down ou trickle up eis a questão. E qual tem sido a opção? Parte II – 12. Credit Suisse e Nomura liquidam produtos ETN no meio da volatilidade dos mercados. Por Financial Times 

Uma nova série sobre as novas tempestades que se vislumbram já no horizonte

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 Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

Parte II – 12. Credit Suisse e Nomura liquidam produtos ETN no meio da volatilidade dos mercados  

Por Financial Times em 6 de fevereiro de 2018

 

O banco suíço diz que o encerramento do fundo não teve nenhum “impacto material” no grupo.

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Operadores no mercado de Chicago reagem à volatilidade do mercado nesta semana, já que o índice VIX, chamado o “medidor do medo” atingiu o seu nível mais alto desde há anos. FT monatge/Getty

 

Um produto do Credit Suisse que chegou a estar avaliado em US $ 2,2 mil milhões, caiu vítima da venda massiva de ações em Wall Street, deixando os investidores institucionais e os hedge funds a terem de suportar pesadas perdas, enquanto o banco suíço disse que tinha saído da situação financeiramente ileso.

O Credit Suisse disse na terça-feira que iniciaria o resgate de um produto que permitiu aos investidores lucrarem quando a volatilidade era baixa, mas que perdeu 96 por cento do seu valor durante a noite na segunda-feira depois que Wall Street sofreu o seu pior dia desde há seis anos.

O banco japonês Nomura também anunciou o encerramento de um seu fundo similar que recompensou os investidores enquanto houve baixa volatilidade, tendo agora escrito aos seus clientes que “pedimos desculpas do fundo dos nossos corações por causar tão grandes inconvenientes aos detentores dos títulos”.

O especialista fundo de investimento cotado em bolsa (ETF) ProShares, cujo produto assente em baixa volatilidade foi suspenso a meio da tarde de segunda-feira depois de entrar em queda livre, disse que continuaria a operar com o fundo “como de costume”, já que o desempenho era “consistente com os seus objetivos”.

A queda nesta semana sobre ETN e ETF acabou com o que até muito recentemente era uma aplicação estelar. Os compradores apostam na tranquilidade do mercado e as aplicações nestes produtos mais que duplicaram em valor durante a ano de 2017, já que o índice de volatilidade Vix atingiu níveis baixos históricos.

O colapso dos produtos e o papel central de dois bancos significativos também refletiram um olhar desagradável sobre um setor financeiro que sofreu no passado pela sua criação de produtos financeiros complexos que prejudicam os seus clientes e a economia em geral.

As ações do Credit Suisse abriram quase a 6% na terça-feira, enquanto o Stoxx Europe 600 banks index caiu de 3% nas negociações da manhã, já que os investidores ignoraram o potencial existente de maior volatilidade para resgatar as suas posições junto dos bancos relativamente à trajetória dos rendimentos de que se tinham recentemente queixado devido aos últimos rendimentos gerados por estes títulos.

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Fonte: Bloomberg

O Credit Suisse disse que o encerramento do produto VelocityShares, cujo valor atingiu US $ 2,2 mil milhões em 11 de janeiro, não teve “nenhum impacto material” no grupo e um alto funcionário do Credit Suisse disse que a sua exposição estava “totalmente coberta”.

O credor suíço era considerado como o maior detentor dos títulos deste veículo financeiro mas o alto funcionário sublinhou que o banco não detinha nenhum título deste veiculo em seu próprio nome, antes eles estavam sob custódia para os seus clientes. Este funcionário também sublinhou que os títulos não foram vendidos através de private banking do Credit Suisse.

Não pode ser confortável ter clientes a quem venderam um produto financeiro que implodiu desta forma, disse Piers Brown, um analista da Macquarie

Ainda assim, pode haver algumas repercussões para o banco, que está a meio caminho de um plano de reestruturação projetado para torná-lo menos dependente das atividades bancárias sobre investimentos arriscados. “A questão da reputação é mais complicada e não pode ser confortável ter clientes a quem venderam um produto que implodiu desta forma “, disse Piers Brown, analista da Macquarie.

Eles indicaram que tinham vendido os títulos principalmente aos hedge funds, e assim penso que se dirá que se trata de investidores sofisticados que conhecem bem os riscos. No entanto, eles falaram também sobre a oportunidade que eles veem em venderem produtos mais estruturados para os seus clientes de private banking. Isso pode suscitar alguns pontos de interrogação sobre essa ideia “.

O mesmo alto funcionário do Credit Suisse concordou que não era “bom” que os clientes perdessem dinheiro, mas enfatizou que eles eram investidores sofisticados que entraram no produto com os olhos bem abertos. O prospeto de 179 páginas do título VelocityShares’ daily inverse Vix short-term exchange-traded note revela várias advertências de que uma perda de 80% num dia poderia resultar no seu encerramento. O instrumento Nomura tinha uma cláusula similar.

Os subjacentes detentores das notas emitidas são desconhecidos, mas espera-se que sejam principalmente fundos de cobertura e grandes investidores institucionais. Christopher Cole, chefe da Artemis Capital Management, um fundo de cobertura centrado sobre a volatilidade descreveu a reação do mercado em Wall Street como “um colapso total “, acrescentando: “Haverá muitas pessoas com perdas nas suas mãos.”

Alguns investidores e analistas alertaram sobre os riscos de investir neste tipo de produtos e, no final da segunda-feira, o gestor de ativos BlackRock disse que “apoia fortemente” a entrada dos reguladores nestes mercados e que devem separar e bem distinguir os produtos inversos sobre volatilidade (ETPs) dos fundos de índices cotados em bolsa.

Os ETPs funcionam vendendo contratos de futuros ligados ao nível do índice de volatilidade Vix da CBOE. A volatilidade geralmente aumenta à medida que os preços das ações caem, e à medida que o tumulto se difunde pelo mercado, como aconteceu na segunda-feira, o Vix disparou em subida, diminuindo o valor dos ETPs que estavam a apostar na baixa volatilidade.

Em resposta, os operadores de mercado e analistas dizem que as ETPs tiveram que cobrir as suas perdas, comprando freneticamente grandes quantidades de futuros Vix para compensar a sua posição de especulação a descoberto. A atividade de negociação ajudou a aumentar o preço dos contratos de futuros em mais de 100 por cento no momento em que o mercado encerrou, exacerbando os movimentos no mercado das ações.

“Este é um subproduto de uma era de baixas taxas de juro onde as pessoas estão a procurar dinheiro e a utilizar a alavancagem ou até a correrem riscos excessivos para o obter”, Brad Golding de Christofferson, Robb & Co

Estas taxas não foram o único elemento fundamental a provocar a venda massiva mas contribuíram para tal e até terão exacerbado a situação“, disse Pravit Chintawongvanich, diretor de estratégia de derivados da Macro Risk Advisors.

Jerry Lucas, estratega sénior da UBS Wealth Management’s Chief Investment Office, disse que houve “uma grande preocupação com a adversidade que se gerou contra um ETF inverso sobre volatilidade…com a volatilidade a disparar à alta“.

Os promotores dos ETF sobre volatilidade tinham anteriormente defendido o papel dos seus instrumentos financeiros no mercado, minimizando o potencial de efeitos adversos, embora referindo nos seus documentos de divulgação aos investidores que eles poderiam acabar por perder grandes quantidades de dinheiro. Na terça-feira, um comunicado da ProShares disse que o seu produto era “consistente com seu objetivo e refletia as mudanças ao nível do seu índice subjacente”, acrescentando que se esperava que o fundo se mantivesse aberto para transações na terça-feira.

Este é um subproduto de uma era de taxas baixas em que as pessoas estão a procurar dinheiro e a utilizar alavancagem ou risco excessivo para o obter“, disse Brad Golding, gestor de portfólio da Christofferson, Robb & Co. “É uma era em que se vive uma certa euforia onde as pessoas estão a confundir a alavancagem com o ser-se inteligente. Todos sabiam que essas coisas iriam explodir. Era apenas uma questão de se saber quando“.

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No que diz respeito aos bancos, os analistas dizem que os últimos dias de volatilidade podem ser o tipo de “boa volatilidade” que os ajuda nas suas transações comerciais a regressarem a uma maior obtenção de lucros ganhos de forma saudável, mesmo que isso ainda não seja evidente no preço das suas ações. “É principalmente máquinas que condicionam e fazem subir o preço das ações”, disse um analista. “O verdadeiro dinheiro está debaixo da tecla em que se carrega. As máquinas não conhecem o script de que a boa volatilidade é boa para os bancos – eles apenas martelam os índices que de que os bancos são uma importante componente”.

 

Laura Noonan in London, Joe Rennison, Eric Platt and Nicole Bullock in New York, Robin Wigglesworth in San Francisco and Leo Lewis in Tokyo

 

BlackRock dissocia-se dos ETPs inversos

O fundo BlackRock, o mais importante gestor de ativos do mundo e o maior operador nos mercados financeiros no setor dos ETF, distanciou-se rapidamente das violentas flutuações dos preços que afetaram os produtos negociados em bolsa alavancados e inversos que foram atingidos pela venda massiva no mercado de ações dos EUA na segunda-feira.

A maioria dos produtos negociados em bolsa alavancados e inversos cotados nos EUA são produtos derivados ligados a títulos de dívida e são estruturas jurídicas diferentes de fundos negociados em bolsa que possuem ativos físicos.

BlackRock não oferece ETP alavancados ou inversos, um ponto que é posto em relevo por uma declaração contundente emitida depois que o mercado dos EUA fechou na segunda-feira.

Os produtos negociados em bolsa inversos e alavancados não são ETFs, e não se comportam como os ETFs em situação de dificuldade nos mercados. É por isso que a BlackRock não os oferece “, afirmou a empresa.

Larry Fink, o executivo-chefe da BlackRock, é um crítico de longa data dos ETPs alavancados. Fink alertou em 2014 que os ETPs alavancados continham “problemas estruturais que poderiam fazer explodir toda o setor “. Os reguladores dos EUA advertiram repetidamente que os ETP alavancadas e inversas são produtos complexos que não são adequados para investidores de retalho. Alguns investidores de retalho sofreram grandes perdas após a compra de ETPs alavancados. BlackRock disse que apoia fortemente uma etiquetagem mais clara dos ETFs alavancados e inversos para que os investidores entendam melhor os diferentes riscos apresentados por esses produtos em relação aos ETF básicos. “Seria errado manchar a reputação de toda a indústria ETF devido a problemas que ocorreram em alguns dos produtos de nicho neste setor. Mas os problemas que temos vindo a assistir podem encorajar os reguladores a acelerar a revisão dos produtos complexos“, disse um executivo sénior que não queria ser mencionado.

Por Chris Flood

 

Texto original em https://www.ft.com/content/ccd278c6-0af5-11e8-8eb7-42f857ea9f09

 

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