Trickle down ou trickle up eis a questão. E qual tem sido a opção?Parte II – 27. Será isto o fim dos mercados em baixa, para sempre? (2ª parte-conclusão). Por Lance Roberts

Uma nova série sobre as novas tempestades que se vislumbram já no horizonte

Imagem 2 Trickle-Down CADILLAC

 Seleção e tradução de Júlio Marques Mota

Parte II – 27. Será isto o fim dos mercados em baixa, para sempre? (2ª parte-conclusão)

Por Lance Roberts lance roberts de real investment advice

real investment advice  em 27 de fevereiro de 2018

 

Há apenas DUAS questões que devem ser respondidas:

  1. O que é que causará a nova bolha

e

  1. Quando é que ela vai rebentar?

O que irá provocar o próximo grande colapso

Ninguém sabe ao certo o que causará a próxima crise financeira. No entanto, na minha opinião, o que será provavelmente o principal responsável será um evento relacionado com o crédito causado pela errada política do FED de aumentar as taxas de juro e de passar a uma política monetária restritiva, quando o sistema financeiro está mais fortemente alavancado do que em qualquer outro momento da história da humanidade.

A ilusão de liquidez tem um efeito secundário bem perigoso. O processo dos dois ciclos anteriores de desalavancagem da dívida levou a reversões de mercado bastante marcadas como a exigência do cumprimento das chamadas de margem[1], e a subsequente destruição da margem de dívida alimentando um ciclo de liquidação em ativos financeiros. O prejuízo resultante do “efeito de riqueza” pesou fortemente sobre o consumo levando a economia para uma situação de recessão, o que então afetou o endividamento das empresas e das famílias o que, por seu lado, conduziu a posições de incumprimento, à desvalorização dos créditos e a muitas falências.

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Com a pressão por mais baixas taxas o “risco” assumido de estar a acumular dívidas por efeito da alavancagem foi removido. No entanto, embora o custo de manter níveis de dívida mais altos seja menor, as consequências da alavancagem excessiva no sistema permanecem as mesmas.

Pode-se ver no gráfico acima, que até mesmo os processos de desalavancagem relativamente pequenos tiveram significativos impactos negativos na economia e nos mercados financeiros. Com a alavancagem total do sistema a aumentar para níveis nunca antes testemunhados na história, é bastante provável que o próximo evento que leve a reversão na dívida seja muito prejudicial para os sistemas financeiros e económicos.

Uma vez que as taxas de juros afetam os “pagamentos”, o aumento das taxas tem impacto negativo no consumo, na habitação e no investimento, o que, em última instância, prejudica o crescimento económico.

Em última análise, será o nível das taxas de juros que desencadeará algum “evento de crédito” que então iniciará o “próximo mercado em baixa “

Aconteceu sempre assim na história.

É importante salientar que, à medida que os preços diminuírem, isso provocará chamadas de margem que induzirão vendas ainda mais indiscriminadas. O ciclo autoalimentado de resgate forçado de ativos forçará os investidores a libertarem-se das suas posições para responderem às exigências das chamadas de margem num momento em que a falta de compradores cria um vácuo a gerar rápidas baixas de preços.

 

Quando é que vai acontecer

Honestamente, ninguém sabe ao certo. No entanto, a história pode dar-nos algumas indicações.

“Nas últimas seis décadas, o período médio de tempo desde o primeiro aperto até ao final do ciclo de atividade económica é de 44 meses; a mediana é de 35 meses; e o desfasamento a partir do pico inicial das taxas de juro até ao final do mercado de capitais em alta é em média de 38 meses para a média, 40 meses para a mediana. “– David Rosenberg

Médias e medianas são excelentes para uma análise geral, mas ofuscam as variáveis de ciclos individuais. Para estarmos seguros: os últimos três ciclos de negócios (80, 90 e 2000) foram extremamente longos e apoiados por uma mudança massiva na engenharia financeira e por um ciclo de crédito altamente alavancado.  A retoma após a grande depressão, e a Segunda Guerra Mundial, levaram à longa expansão económica nos anos 40, e a “corrida ao espaço” alimentou a expansão dos anos 60.

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Atualmente, o emprego, o crescimento económico e o crescimento salarial permanecem fracos com 1 em 4 americanos a viverem de subsídios governamentais e a maioria dos americanos está a viver do salário mês a mês. É por isso que os bancos centrais, a nível mundial, continuaram a monetizar agressivamente a dívida, a fim de evitar que a economia entre em estagnação. Com o FED agora a colocar-se numa trajetória de alta das taxas de juro e a reduzir a liquidez do mercado, o risco de um erro de política económica e monetária aumentou acentuadamente.

Se David tem razão, dado que o FED começou a avançar na sua trajetória de aumento da taxa de juro em dezembro 2015, a próxima recessão ocorreria 38 meses mais tarde ou em fevereiro de 2019. Um tal período de tempo tornaria a atual expansão económica, a segunda mais longa na história que é baseada em fracas taxas de crescimento económico.

O gráfico e tabela abaixo comparam a evolução do PIB ajustado pela inflação com a evolução das taxas de juro praticadas pelo FED. As barras verticais a roxo representam o trimestre em que se deu o primeiro aumento da taxa de juro ou o início de uma recessão.

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Se olharmos para os dados subjacentes, que remontam a 1943, e calculam tanto a média como a mediana para todo este período de tempo encontramos:

  • O número médio de trimestres a partir do primeiro aumento da taxa de juro até à recessão seguinte é de 11 ou 33 meses.
  • A taxa média de crescimento económico efetivo quinquenal foi de 3,08%.
  • A mediana do número de trimestres desde o primeiro aumento da taxa até à recessão seguinte é de 10 ou 30 meses.
  • A taxa de crescimento económico mediana quinquenal foi de 3,10%.

A importância de tudo isto reflete a questão levantada acima, o FED aumenta as taxas de juro para retardar o crescimento económico e aliviar as pressões inflacionárias. No entanto, o crescimento económico e a inflação estão a níveis bem abaixo das normas históricas e a alavancagem em todo o sistema aumentou para novos máximos à medida que os indivíduos e as empresas corporações se encharcaram em dívida num ambiente de baixas taxas de juro.

Isso agora está a mudar à medida que o Fed aumenta as taxas de juros. Observe no gráfico acima, que as recessões ocorrem quando o FED começa a aumentar a taxa de juro e com a taxa de juro do FED a aproximar-se da taxa praticada nos títulos do Tesouro a 10 anos. Em cada uma das situações ocorreu uma recessão ou “crise”.

Crise, recessão e mercados em baixa

Se as médias históricas se mantiverem, e uma vez que as situações dos principais mercados de ações em baixa coincidem com as recessões, então o atual mercado de ações em alta tem cerca de um ano para se manter nessa trajetória.  Embora os mercados, devido à dinâmica, possam ignorar o efeito de “pressão monetária” no curto prazo, a longo prazo tem sido sempre uma história diferente.

Como se mostra na tabela abaixo, a maior parte das perdas nos mercados estão ligadas a recessões económicas. No entanto, há também outros eventos, como o colapso de 1987, o contágio asiático, o colapso dos fundos Long-Term Capital Management, e outros que levaram também a acentuadas correções nos mercados.

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O problema é que, no curto prazo, a economia e os mercados (devido à dinâmica de alta), podem parecer estar a desafiar as leis da gravidade com as taxas de juros a começarem a subir. No entanto, como as taxas continuam a subir, no quadro de uma trajetória à alta de taxas, estes aumentos na taxa de juro acabam finalmente por agir como um “freio” na atividade económica.

Embora as taxas de juro em alta possam não ter nenhum impacto “inicialmente” sobre o preço dos ativos, é uma história muito diferente estar a sugerir que estes aumentos não têm nenhum impacto. Na verdade, não há rigorosamente nenhuma vez na história em que o FED se tenha colocado numa trajetória de aumento das taxas de juro que não tenha acabado por levar a um mau resultado.

O que a maioria dos analistas falha na sua análise é o efeito da trajetória da alta das taxas de juro sobre “todo o ciclo”. Embora as ações possam fornecer um refúgio contra o aumento das taxas de juro durante a primeira metade do ciclo do aumento da taxa, estes aumentos das taxas de juro têm tido um papel arrasador na segunda metade do ciclo.

É claro a partir da análise que as “más coisas” tendem a seguir o primeiro aumento da taxa de juros da Reserva Federal. Embora os mercados e a economia possam parecer estar a evoluir bem durante a fase inicial da campanha, o eventual impacto negativo será mais provável que venha a levar à “venda em situação de pânico” na fase de recessão. Os erros emocionais representam 50% das causas que geram a situação de pânico porque os investidores estão consistentemente a terem expectativas de rendimentos inferiores aos resultados dos mercados analisados ao longo de um ciclo de 20 anos.

Exatamente as questões ” O quê” e “O quando” do próximo “mercado em baixa” não têm respostas conhecidas. E tem sempre havido um qualquer evento imprevisto que desencadeia a “reversão para a mediana”.

Será óbvio em termos de “retrospetiva“.

Embora os media protestem sempre e em voz alta que “ninguém poderia ter visto isso”, a situação dá-nos múltiplas pistas se nos decidirmos a olhar para elas.

O FED não colocou um “Fim” aos mercados em baixa.

Na verdade, é provável que tenham sido apenas bem sucedidos em fazer com que a próxima situação dos mercados à baixa seja pior que a última.

Por enquanto, a tendência à alta nos mercados está ainda a verificar-se e deve ser “conscientemente” honrada. No entanto, enquanto pode parecer que nada pode parar a alta nos mercados ou então que o FED nunca os deixará cair, é fundamental lembrarmo-nos de que é “isto é assim até que seja o seu contrário”.

Para aqueles que andam a dormir ao volante haverá um pesado custo a pagar quando se acederem as luzes dos travões.

 

Texto original http://realinvestmentadvice.com/the-end-of-bear-markets/

 

O autor: Lance Roberts é economista, especialista em mercados financeiros, diretor e editor chefe de Real Investment Advice, chefe de estratégia de portfolio em Clarity Financial.

 

Nota

[1]  Uma Margin call (pedido de cobertura ou chamada de margem ) ocorre quando um corretor (broker) pede a um trader que coloque mais capital na sua conta, por esta estar a violar a margem mínima de manutenção, de forma a que a conta volte a estar acima desse mínimo.

Para satisfazer uma margin call, um trader tem que providenciar mais capital (depositando mais dinheiro ou títulos) ou vender posições existentes de forma a diminuir a sua alavancagem. Se o trader não o fizer, o corretor terá o direito, e tomará a iniciativa, de reduzir ele mesmo as posições do trader.

O termo “margin call” vem de que, no passado, os corretores telefonavam aos clientes com o pedido de garantias adicionais. Actualmente, existem corretores em que o processo está automatizado e assim que a margem mínima de manutenção é violada, o sistema fecha automaticamente posições, o que reduz o risco para o corretor, mas não dá tempo ao trader de acrescentar capital à conta, obrigando-o assim a controlar preventivamente a sua proximidade aos limites de margem.

As margin calls podem ser responsáveis por venda forçada, podendo desencadear quedas violentas em títulos individuais ou no mercado em geral. Isto geralmente acontece quando o título ou o mercado possuem muitos detentores alavancados (por exemplo, quando estamos perante margin debt elevado), e já existiu uma queda que esgotou a margem de segurança desses detentores.

Veja-se: http://www.thinkfn.com/wikibolsa/Margin_call

 

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