BEIRUTE, Líbano – Dias depois de o presidente Trump ter dito que queria tirar os Estados Unidos da Síria, as forças sírias atacaram um subúrbio de Damasco com bombas que os trabalhadores das operações de salvamento dizem que libertavam gases tóxicos.
Enganou-me umas vez, envergonho-me de si; enganou-me duas vezes, envergonha-me de mim, diz o velho ditado. Portanto, caminhe com cuidado pelos campos minados de propaganda destinada aos crédulos em órgãos de imprensa que descem muito baixo como, por exemplo, The New York Times. Há excelentes razões para supor que o Estado Profundo Americano deseja insistentemente manter-se intrometido em todo o Oriente Médio. O registo até agora mostra que os instrumentos contundentes da política estratégica dos EUA produzem um resultado consistente: Estados falidos.
A Síria está praticamente a cair nesta triste condição – provocada por uma fluxo de maníacos jihadistas que fugiam da nossa precedente experiência de libertação no Iraque- quando os russos intervieram e em que estes têm uma ideia diametralmente oposta e que é a de apoiar o governo sírio. É certo, os russos têm também outros motivos: uma base naval no Mediterrâneo, uma influência alargada na região e uma concessão para a Gazprom desenvolver e gerir grandes campos de gás natural perto da cidade síria de Homs, para exportação para a Europa. A Síria iria assim competir com o estado cliente da América, o Catar, para liderar o exportação de gás para a Europa.
Mas os EUA opuseram-se a conceder qualquer apoio ao governo de Bashar al-Assad, como tinham feito anteriormente com Saddam Hussein e Muammar Gaddafi, e recusam-se sobretudo a aceitar a presença da Rússia na região . Assim, os EUA cultivaram a formação de forças anti-governamentais na guerra civil na Síria, ou seja apoiaram uma miscelânea de psicopatas islâmicos também conhecida como ISIS (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), Daesh, al-Qaeda, al-Nusra, Ansar al-Din, Jaysh al-Sunna, Nour al-Din al-Zenka, e mais tudo aquilo que o leitor quiser. .
Como isso aconteceu, a política dos EUA na Síria após 2013 tornou-se um exercício de malabarismo. Ficou claro que o nosso apoio às forças da Jihad contra Assad estava a transformar as grandes cidades sírias em campos de cascalho, com enormes massas de civis apanhados no meio e triturados como comida para cães. O Presidente Barack Obama traçou uma famosa linha na areia quanto ao uso de armas químicas. É bem conhecido que o exército sírio tem stocks de produtos químicos venenosos. Mas os EUA também sabem que os nossos consortes jihadistas também têm os seus stocks. Incidentes de atrocidades com produtos químicos foram praticadas por… alguém …isto nunca foi provado e a famosa linha traçada na areia por Obama desapareceu sob tempestades de equívocos.
Finalmente, uma missão conjunta da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas (UNHRC) e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) foi convocada para supervisionar a destruição das armas químicas do governo sírio, e certificou-a como concluída no final de 2014. Ainda assim, incidentes com gás venenoso continuaram – mais notoriamente em 2017, quando o presidente Donald Trump respondeu a um deles com uma salva de mísseis de cruzeiro contra um aeródromo vazio do governo sírio. E agora um outro incidente no subúrbio de Douma, em Damasco, levou Trump a ameaçar tempestuosamente com violência retaliatória, poucos dias depois de ter proposto uma rápida retirada daquele canto vexatório do mundo.
Certamente, nesta altura, o povo americano já desenvolveu alguma imunidade contra afirmações de ações nefastas em terras estrangeiras (“armas de destruição maciça”, e todas as outras). A posição afirmativa no relato dado pelo New York Times é “… as forças sírias atacaram um subúrbio de Damasco com bombas que os trabalhadores das operações de salvamento dizem que libertavam gases tóxicos..” Sim, bem, como é que é claro que são as bombas que contêm o gás tóxico ou, ao contrário, serão as bombas lançadas pelas forças sírias que fizeram explodir depósitos de gases altamente tóxicos, depósitos estes nas mãos de jihadistas ? Será que essa mistura de maníacos demonstra algum respeito pela ONU, pela Convenção de Genebra ou por qualquer outra agência de direito internacional? Como em muitos desses incidentes anteriores, não sabemos quem foi o responsável – embora haja muitas razões para acreditar que os partidos dentro do establishment dos EUA são contra a ideia de Trump sair daquele lugar, um verdadeiro inferno, e podem mesmo preparar um motivo conveniente para evitar essa mesma saída.
Por último, qual será o interesse de Bashar al-Assad em provocar uma nova campanha internacional contra ele e o seu regime? Eu diria que não é nada do seu interesse, já que ele está prestes a pôr fim a este terrível conflito. Ele pode não ser um modelo de retidão pelos padrões ocidentais, mas não é mentalmente doente. E ele tem muito apoio russo capaz de aconselhá-lo no que tem sido até agora um esforço longo e difícil para evitar que o seu estado entre em falência – ou deixe de existir para ele.